Quem perdoa liberta

Cientes do nosso hábito infeliz de criticar, julgar e maldizer, torna-se imprescindível uma literatura que investigue uma das mais destrutivas doenças da convivência em grupo: a desconfiança. A desconfiança é o resultado emocional dos julgamentos crônicos.

Essa desconfiança citada por dona Modesta
faz parte da estratégia de ação da falange mais agressiva de inimigos do bem, “Os Dragões”. Em sua estrutura de manipulação psicológica eles insuflam ou exploram o adoecimento das relações, através da desconfiança.


Essa desconfiança surge exatamente quando permitimos a atitude de crescente destaque à sombra alheia. Por isso, a obra “Quem Perdoa Liberta” teve como foco central de suas reflexões a ação de misericórdia, ou seja, o destaque dos aspectos luminosos uns dos outros, como fonte de segurança e bem-estar na convivência.

Investigando e ressaltando o valor de alguns cuidados quando o assunto é valorizar o próximo, mesmo quando percebemos suas imperfeições e limites. É preciso que se diga que essa ação das falanges organizadas no mal visa intoxicar os grupos criando um clima de desvalor até atingir a descrença.

Na medida em que são disseminados e fortalecidos os aspectos mais problemáticos de um relacionamento,
ele se deteriora porque a mente cria clichês muito pessimistas e desgastantes, que impedem a formação de um ambiente saudável e agradável para trabalhar, aprender ou mesmo divertir.

Essa metamorfose dos sentimentos de uns para com os outros é lenta e vai passando pelo desgosto, pela decepção, pela antipatia e por fim pela rejeição. 

O conceito de perdoar no livro tem essa conotação de aceitar.
Quem aceita está perdoando, porque a mágoa não acontece somente quando alguém nos ofende. Ela é um estado emocional que caracteriza a sensação ou sentimento de lesão, injustiça, inconformação ou defesa diante de alguma ameaça, mas o assunto é tão sutil que alguém ser do jeito que é pode ser ameaçador para a nossa estrutura psíquica, exigindo, portanto, perdão. Nesse caso, perdão por ela não ser como gostaríamos que fosse. 

Pode parecer que esta é uma realidade distante da nossa vida, entretanto,
não tenho dúvida em afirmar que esse aspecto do relacionamento está mais presente que podemos supor na convivência humana. Os Dragões sabem disso e, quando querem atingir objetivos destrutivos, exploram esse comportamento na criação desse estado de desconfiança, em muitos casos anulando as chances de entendimento e harmonia.

Sempre gosto de lembrar que essa atuação dos espíritos
é sempre possível por conta dos sentimentos que nutrimos e desenvolvemos em nossa forma de conviver. Os Dragões apenas exploram algo que já foi gerado a partir de nós mesmos. Não são responsáveis pela desconfiança, apenas a insuflam, a alimentam, quando nós, em nossos descuidos de conduta permitimos abrigar na vida mental, a pior parte das pessoas com as quais tecemos relações.

Ao escrever sobre o assunto, no livro “Quem Perdoa Liberta”, encontramos uma contribuição do autor José Mario, que nos alerta para essa ocorrência ensinando-nos o que fazer diante de tal quadro emocional.
Seria muito útil que os grupos espíritas estudassem os livros da trilogia “Desafios da Convivência no Centro Espírita”. Muitos estão fazendo isso e colhendo ótimos resultados na busca de um clima mais agradável e motivador em suas casas doutrinárias.

Que fique claro:
ficar responsabilizando espíritos por situações que são criadas por nós é no mínimo um ato de fuga e irresponsabilidade. Quero terminar recordando mais um trecho inspirado de dona Modesta na introdução do livro: 

“Eis o princípio das relações sadias e libertadoras: a seletividade mental para a luz e a beleza exuberante que cada criatura carrega em si mesma. Somente assim expandimos nosso próprio potencial de qualidades e nos envolvemos na agradável psicosfera da bondade, que é a filha primogênita da misericórdia.”   


Livro Quem perdoa liberta - Wanderley de Oliveira