Sua obtenção mediúnica e a luta pela sua publicação
Por Leonardo Marmo Moreira
Divaldo Pereira Franco relata que, no ano de 1959, Chico Xavier afirmou para Dona Yvonne do Amaral Pereira que André Luiz deixara claro que, em sua opinião, “Memórias de Um Suicida” era, em seu gênero, a maior obra dos últimos 50 anos e também dos próximos 50 anos.
Portanto,
“Memórias de um Suicida” seria, para André Luiz, a maior obra do século XX e do
início do século XXI. Mesmo admitindo-se a humildade de André Luiz, o qual,
obviamente, tenderia a minimizar a importância de suas próprias obras, as quais
dispensam maiores adjetivos, temos que concordar que “Memórias de Um Suicida”
constitui um livro extremamente bem escrito e rico de conteúdo doutrinário.
No
entanto, curiosamente, a obra quase não foi publicada, pois Dona Yvonne do
Amaral Pereira e sua obra não tiveram uma recepção muito calorosa em um primeiro
contato com a Federação Espírita Brasileira (FEB), conforme a própria
médium relata.
Realmente,
naquele tempo, a possibilidade de publicação de um livro espírita era muito
reduzida, uma
vez que praticamente só havia a FEB como editora viável para tal tipo de obra. Essa condição era tão
restrita, que o próprio Doutor Bezerra de Menezes recomendara à Dona Yvonne
Pereira que ela procurasse a FEB como alternativa única para enviar “Memória de
Um Suicida” ao prelo.
Nesse
momento, Dona Yvonne chegou até mesmo a cogitar em eliminar os originais, ato este que foi
evitado pela intervenção de Doutor Bezerra de Menezes e de Léon Denis, o célebre apóstolo do
Espiritismo. O próprio Léon Denis iniciou, a partir de então, um rigoroso
processo de revisão e ampliação de todo o conteúdo do livro. De fato, as narrativas de
Camilo Castelo Branco foram desdobradas em análises doutrinárias profundas,
elaboradas por este Espírito.
Além da
indiscutível melhoria do conteúdo intrínseco da obra em questão, a contribuição de
Léon Denis implicou em um adiamento da publicação do livro, o que
estrategicamente foi importante, uma vez que a publicação definitiva da obra
“Memórias de Um Suicida” somente ocorreu após a publicação das primeiras obras
de André Luiz.
Este
contexto mais favorável permitiu que o movimento espírita brasileiro já estivesse
um pouco mais familiarizado com a realidade das colônias espirituais, das
regiões espirituais de sofrimento, das equipes que trabalham arduamente nessas
regiões e dos complexos processos de preparação espiritual para a reencarnação.
Isso
favoreceu não somente a publicação propriamente dita, através da aprovação pelo
corpo editorial da FEB, como principalmente o sucesso na divulgação e estudo da
obra no meio espírita, após o pioneirismo de André Luiz.
É
importante registrar que, no que se refere à aprovação pelo corpo editorial da FEB,
foi necessária a intervenção lúcida e providencial de Doutor Carlos Imbassahy, o qual defendeu a
publicação da obra com toda a ênfase e eloquência que só o ilustre espírita
possuía.
Narra-se
que, em meio à forte resistência de alguns confrades, o Dr. Carlos Imbassahy
teria dito: “Essa obra é um monumento!”. E, de fato, a obra é um dos maiores tesouros
que a mediunidade com Jesus trouxe para a Crosta terrestre.
A versão
final publicada de “Memórias de Um Suicida”, portanto, constitui-se em um
relato pessoal do renomado escritor do Romantismo português, Camilo Castelo
Branco
(autor da famosa obra “Amor de Perdição”), o qual desiludido da vida e
desesperado em função das suas dificuldades de saúde física decide dar cabo da
própria existência carnal.
O que é
menos difundido, no entanto, é que a revisão final de toda a obra coube a Léon Denis,
que analisou, aprofundou, discutiu e desdobrou passagens narrativas de Camilo
Castelo Branco, extraindo das mesmas amplas informações da vida espiritual e,
especificamente, das experiências peculiares e muito dolorosas enfrentadas
pelos suicidas de uma forma geral.
A
contribuição de Léon Denis, segundo informações da própria Dona Yvonne Pereira, chega
a suplantar em número de páginas a contribuição do próprio Camilo Castelo
Branco.
Tal medida foi fundamental para que a obra crescesse em conteúdo, atingindo um
valor doutrinário extraordinário para todos os confrades que buscam conhecer
minimamente a vida espiritual e, mais especificamente, o martírio daqueles
que desencarnam através da infeliz opção do suicídio.
Uma
informação interessante que Dona Yvonne Pereira fornece no início do livro é
que ela
não considerava o processo mediúnico de obtenção de “Memórias de um suicida”
uma “simples” psicografia, no sentido mais convencional que o termo possa ser
compreendido. Dona Yvonne afirma que assistia a todas as cenas como quem
assiste a um cinema 3D da mais elevada tecnologia. Era como se ela
estivesse fazendo parte de todas as cenas e assistindo a um “teatro” ou aos
próprios acontecimentos da vida espiritual in loco.
Tal
fenômeno é
semelhante à experiência vivenciada por Chico Xavier no recebimento mediúnico
do livro “Há 2000 anos”, primeiro romance da série histórica de Emmanuel. No caso de Yvonne
Pereira, a experiência gerava um impacto emocional muito forte sobre a médium, que sofria
intensamente com os protagonistas da obra, sobretudo quando os mesmos estavam
no “Vale dos Suicidas”.
Esse
impacto emocional estava relacionado não somente às fortes cenas vivenciadas
por Dona Yvonne no “Vale dos Suicidas”, mas também aos compromissos dolorosos
que a médium tinha do passado. De fato, Dona Yvonne recebeu revelações através de seu
mentor espiritual, o Espírito Charles, e do próprio Doutor Bezerra de Menezes, que explicitavam a
necessidade premente para sua condição espiritual de contribuir para a
diminuição dos índices de suicídio na Terra através do processo educativo.
Esses
guias espirituais esclareciam o grande compromisso que ela possuía com a publicação
desta obra, pois ela também já havia sido suicida em encarnação anterior. De fato, Dona Yvonne
afirma que passou por diversos problemas pessoais durante uma vida física muito
sacrificada, que foi essa sua última encarnação, a qual terminou no ano de 1984. A abnegada médium
assevera que sua vida física somente começa a se tornar menos penosa, embora
de forma muito lenta e gradual, após a publicação de “Memórias de Um Suicida”, fato este que
representava tarefa chave na sua reencarnação.
Após a
publicação da obra, Dona Yvonne começa a sentir um maior amparo espiritual e
mais serenidade, os quais eram originados pelo impacto de amor e de iluminação
espiritual que a obra gerava nos seus leitores e estudiosos. Cada indivíduo que
lia a obra e
afastava a idéia de suicídio de sua mente era uma contribuição de amor
incalculável que revertia em bênçãos inefáveis para Dona Yvonne do Amaral Pereira.
O
exemplo da vida e da obra de Yvonne Pereira deve ser sempre lembrado para todo
trabalhador espírita, médium ou não. As dificuldades para a publicação da obra
“Memórias de um Suicida” e a extrema humildade com que a médium lidou com a
situação demonstram que, por mais especial que seja a tarefa espiritual do trabalhador
encarnado, ele não fugirá das dificuldades inerentes à nossa vida física, pois “Deus faz cair a
chuva sobre bons e maus e nascer o sol sobre justos e injustos”.
As
tribulações de Dona Yvonne Pereira fizeram, inclusive, com que ela perdesse
algumas importantes psicografias, pois teria escrito tais textos a lápis, em
papel de pão, pois não tinha recursos para adquirir nem canetas e nem cadernos. Desta forma, com o
passar dos anos, os registros foram perdidos, por mais que Dona Yvonne tenha se
esforçado para que tais psicografias fossem preservadas.
Dona
Yvonne Pereira, que tinha “Paulo e Estêvão” (Emmanuel/Chico Xavier) como sua obra
mediúnica favorita, forneceria outras obras maravilhosas para o crescimento
doutrinário de todo o movimento espírita, tais como “Devassando o Invisível” e
“Recordações da Mediunidade”.
Valorizar
e divulgar as obras de Dona Yvonne Pereira é uma tarefa que não nos podemos
furtar, tendo-se em vista a necessidade de valorizar e priorizar obras de
elevado conteúdo doutrinário, obtidas através de médiuns confiáveis, sobretudo quando o
escopo dos respectivos trabalhos for direcionado à vida no mundo espiritual. De fato, o número
elevado de obras que têm sido publicadas a cada ano torna o volume de títulos
considerados espíritas de tal grandiosidade que pouquíssimos confrades poderiam
ter condições de ler majoritária percentagem de tamanha bibliografia.
O
próprio Divaldo Franco recomenda aos dirigentes espíritas o cuidado de só
recomendarem a leitura ou mesmo citarem em suas preleções e estudos
doutrinários obras que tenham lido e considerado minimamente coerentes com as
bases kardequianas. Além, obviamente, das obras kardequianas, uma alternativa
interessante de trabalho espírita seria o estudo em conjunto das obras de Dona
Yvonne Pereira que tratam do mundo espiritual e da mediunidade, tais como
“Memórias de Um Suicida”, “Devassando o Invisível” e “Recordações da
Mediunidade”, entre outras.
Tal
estudo seria muito relevante e corroboraria com os grupos de estudos focados nos livros da
série “A vida No Mundo Espiritual”, também conhecida como série “Nosso Lar”, de
André Luiz.
Poderíamos, igualmente, acrescentar as obras de Manoel Philomeno de Miranda
através da mediunidade de Divaldo Pereira Franco, entre outras obras de grande
relevância de autores encarnados e desencarnados.
Tais
obras são exemplos de fontes seguras de informações doutrinárias para vastos
estudos focados nos temas supracitados, sem, evidentemente, menosprezar outras
contribuições que, em concordância com Allan Kardec, possam desdobrar assuntos
tão relevantes quanto complexos, como, por exemplo, a mediunidade, o perispírito, as
regiões de sofrimento espiritual, as colônias espirituais, a influência
espiritual negativa (obsessão), a telepatia espiritual positiva (inspiração),
os desdobramentos conscientes (também chamados projeções da consciência), os
cursos preparativos para a reencarnação, entre outros.