“É dado
ao homem conhecer o principio das coisas? – Não, Deus não permite que ao homem
tudo seja revelado neste mundo.” (pergunta 17 do Livro dos Espíritos – Allan
Kardec)
“Assim é
que o anima atravessa longas eras para instruir-se. Espírito algum obtém
elevação ou cultura por osmose, mas através de trabalho paciente e
intransferível. O animal, igualmente, para atingir a auréola da razão, deve conhecer
benemérita e comprida fieira de experiências que terminarão por integrá-lo na
posse definitiva do raciocínio”. ( Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido
Xavier).
Levando
em consideração os postulados acima, estaremos fazendo uma revisão sucinta de
várias citações na literatura espírita que tratam alma ou não. Vamos ver até onde já
conhecemos sobre o princípio das coisas e como tudo se encadeia na criação de
Deus.
A
evolução das espécies, segundo Darwin, faz um paralelo com a evolução do “principio
espiritual”, segundo Kardec. Para o primeiro, as espécies evoluem segundo a “seleção
natural”, ou lei da sobrevivência do mais forte e mais aperfeiçoado, através de
mutações genéticas.
Segundo
comunicações de Espíritos Superiores, Kardec estabelece que Deus cria os
espíritos simples e ignorantes, e estes devem utilizar, na Terra e, suponho, em
planetas do mesmo nível evolutivo desta, organismos biológicos para evoluírem em
busca da perfeição.
Questionando-se
a existência espiritual dos animais poderemos recorrer a tantas informações
contidas na literatura espírita que não nos resta senão admiti-la.
Embora a essência das
palavras “princípio inteligente”, “princípio espiritual” e “espírito” seja a
mesma, a fim de facilitar a compreensão deste artigo, estaremos utilizando-as
da seguinte forma: Princípio Inteligente (espírito antes de atingir a consciência de
si próprio), Espírito (princípio inteligente ao entrar na fase evolutiva
humana); Princípio Espiritual (espírito ou princípio inteligente); e Alma
(espírito encarnado).
Em “A
Gênese”, encontramos acima de vinte citações referentes ao tema da evolução
anímica. Destacamos duas que consideramos bem abrangentes: “O espírito não
chega a receber a iluminação divina sem antes haver passado pela série
divinamente fatal dos seres inferiores, entre os quais se elabora lentamente a obra da
sua individualização”.
“A
escalada orgânica acompanha constantemente, em todos os seres, a progressão da
inteligência, desde o pólipo até o homem, e não poderia ser de outro modo, pois que a alma
precisa de um instrumento apropriado à importância das funções que lhe compete
desempenhar”.
Podemos
ver, então, que nestes dois conceitos fundamentais, fica claramente
estabelecido que há uma progressão do princípio espiritual, aperfeiçoando-se ao
entrar em contacto com o organismo biológico que lhe for pertinente segundo o seu nível evolutivo,
desde as mais simples até as mais complexas criaturas.
Em “O
Livro dos Espíritos”, há transparência inegável sobre a existência do princípio
inteligente no animal. Eis o resumo das questões 597 a 610: Os animais têm um
princípio inteligente independente da matéria e que sobrevive ao corpo. O princípio
inteligente dos animais é semelhante ao do homem, ambos individualizados, mas
com grandes diferenças evolutivas.
Por
exemplo, os
animais não possuem a consciência de si próprios, possuem um livre-arbítrio
limitado aos atos da vida material (não podem escolher a espécie na qual prefiram
encarnar-se), estão em constante supervisão por Espíritos Superiores (não são espíritos
errantes, uma vez que não pensam e não agem por sua livre vontade, mas existem
sim, na erraticidade), e para eles não existe expiação.
Tanto o princípio
inteligente do animal como a inteligência do homem emanam do elemento
inteligente universal, sendo que no homem esta inteligência passou por uma
elaboração que o eleva acima daquela que existe no animal. A primeira fase do
espírito humano é cumprida em uma série de existências que precedem o período
de humanidade.
É nesses
seres que o princípio inteligente se elabora, se individualiza e sofre uma
transformação e se torna espírito, com isto tomando a consciência do seu
futuro, a distinção do bem e do mal e a responsabilidade de seus atos. A Terra não é o ponto
de partida da primeira encarnação humana, entretanto essa não é uma regra
absoluta e poderia acontecer que um espírito, desde o seu início humano, esteja
apto a viver na Terra.
Emmanuel nos diz: “Se bem haja no nosso círculo
dos estudiosos do espaço o grupo de opositores das grandes ideias sobre o evolucionismo
do princípio espiritual através das espécies, sou dos que os estudam, atenta e
carinhosamente... oriundo na flora microbiana, em séculos remotíssimos, não
poderemos precisar onde se encontra o acume das espécies ou da escala dos seres.
Os
animais, são
os nossos parentes mais próximos, apesar da teimosia de quantos persistem em
não o reconhecer. O homem está para o animal simplesmente como um superior
hierárquico. Desconheceis ainda os processos dos modismos dessas transições,
etapas percorridas pelas espécies, evoluindo sempre, buscando a perfeição
suprema e absoluta, mas sabeis que um laço de amor nos reúne a todos, diante da
Entidade Suprema do Universo”.
“As
forças espirituais estabeleceram na época da grande maleabilidade dos elementos
materiais uma linhagem definitiva para todas as espécies, dentro das quais o “princípio
espiritual” encontraria o processo de acrisolamento em marcha para a
racionalidade”. (A Caminho da Luz - Emmanuel)
Como se
infere do exposto, Emmanuel não nos deixa dúvida quanto a existência da evolução do
“princípio espiritual” em busca da sua perfeição. Alerta-nos ainda que a transição de uma
fase mais primitiva do espírito para uma fase mais evoluída acontece no plano
espiritual, através de modificações estabelecidas no perispírito: a fôrma
(molde) determinando a forma (corpos físico), como vemos a seguir:
“... as hostes
do invisível operaram uma definitiva transição no corpo espiritual
preexistente, dos homens primitivos, nas regiões siderais em certos intervalos de
suas reencarnações”.
(A Caminho
da Luz – Emmanuel)
André Luiz nos explica que: “É assim que dos organismos monocelulares aos organismos
complexos, em
que a inteligência disciplina as células o ser viaja no rumo da elevada
destinação
que lhe foi traçada do Plano Superior.
Atingindo
os alicerces da humanidade, o princípio espiritual do homem infraprimitivo demora-se
longo tempo em regiões espaciais, sob assistência dos Instrutores do Espírito,
recebendo intervenções sutis nos petrechos da fonação, para que a palavra
articulada pudesse assinalar novo ciclo de progresso.
Orientadores
da Vida Maior acolhem animais nobres desencarnados, internando-os em
verdadeiros jardins de infância, para os primeiros aprendizados a se fixarem no
cérebro, de forma seqüencial e progressiva.
O
reflexo precede o instinto, tanto quanto o instinto precede a atividade
refletida, que é a base da inteligência nos depósitos do conhecimento adquirido por
recapitulação e transmissão incessantes, nos milhares de milênios em que o princípio
espiritual atravessa lentamente os círculos elementares da Natureza, qual vaso vivo, de
forma em forma, até configurar-se no
indivíduo humano, em trânsito para a maturação sublimada no campo evangélico”.
(Evolução em Dois Mundos
– André Luiz)
“O
principio espiritual caminha sem detença para a frente, viajou do simples
impulso para a irritabilidade, da irritabilidade para a sensação, da sensação
para o instinto, do instinto para a razão. Nessa penosa romagem, inúmeros milênios
decorreram sobre nós. Estamos, em todas as épocas, abandonando esferas
inferiores, a fim de escalar as superiores. O Cérebro é o órgão sagrado de
manifestação da mente, em trânsito da animalidade primitiva para a espiritualidade
humana”.
(No Mundo Maior – André Luiz)
“Seis
grandes carros, formando diligência, precedidos de matilhas de cães alegres e
barulhentos, eram tirados por animais que mesmo de longe, me pareceram iguais
aos muares terrestres, os grandes bandos de aves, de corpo volumoso, que voavam a certa
distância acima dos carros, produzindo ruídos singulares. Aquelas aves que
denominamos íbis viajores são excelentes auxiliares dos Samaritanos”.
(Nosso Lar
– André Luiz)
Gabriel Delanne nos traz as seguintes
informações: “A manifestação da inteligência é observada em todos os seres
vivos,
embora nos seres inferiores ela possa ser confundida com puras reações
físico-químicas.
No
entanto, com a elevação na escala dos seres, um verdadeiro psiquismo se manifesta
e a inteligência se traduz por atos comparáveis aos dos humanos. O elefante, o cão, o
macaco mostram que não existe uma diferença na natureza entre algumas de suas
ações e as que executamos”.
Delanne
é categórico em afirmar que o corpo físico, estrutural e funcionalmente não teria
estabilidade na “série animal” se não fosse pela manifestação anímica. Faz ainda referência a
aparições de animais “defuntos” em sessões de materialização, reaparecendo com
o aspecto do antigo corpo físico, o que indica a individualização do espírito
e perispírito já nos animais.
Conclui
que não
devemos esperar ver nos animais uma inteligência ou sentimentos comparáveis em
intensidade aos do homem, mas eles também possuem intelecto (atenção, memória,
imaginação, raciocínio, linguagem), sentimentos (amor materno, conjugal,
simpatia, raiva) e vida em sociedade (formigas, abelhas, cães, lobos, macacos).
Ernesto Bozzano, pesquisador de
fenômenos supranormais, demonstra a existência e a sobrevivência do princípio espiritual
dos animais após a morte. Estudando diversos casos, comprova a aparição de “espíritos” de
animais, a premonição e a vidência nestes, adicionando que cães, gatos e
cavalos possuem atividades psíquicas e sentimentos afetivos.
Cairbar Schutel demonstra o amor
filial e maternal nos animais inferiores, a lei do trabalho como
desenvolvimento da inteligência, visão e percepção dos animais (cães e cavalos
que sentem o invisível), enfim, o progresso do “princípio espiritual” pela
escala orgânica, sem transições bruscas, para galgar o ápex da espiritualidade. São citações do autor:
“O homem atravessou a escala zoológica para chegar a ser homem”.
“O cão é
sempre cão e o asno é sempre asno (corpo físico), mas os Espíritos que animam
aqueles corpos vêm de longe e destinam-se às esferas onde reina a felicidade”.
O
Espírito Áureo esclarece-nos que o
“espírito”, sem sair do reino animal, seguindo sempre uma marcha progressiva,
passa por todas as fases de existência, sucessivas e necessárias ao seu
desenvolvimento. Ao atingir o ponto de preparação para entrar no reino humano, o “princípio
espiritual” do animal se prepara em mundos “ad hoc” (para esta finalidade),
para a vida espiritual consciente, independente e livre.
Sobre os
mundos “ad hoc”, Áureo faz citação a André Luiz (Libertação), ao descrever uma
cidade espiritual situada em regiões umbralinas: “Milhares de criaturas, utilizadas
nos serviços mais rudes da natureza, movimentam-se nestes sítios em posição
infraterrestre. A ignorância, por hora, não lhes confere a glória da
responsabilidade.
Em
desenvolvimento de tendências dignas, candidatam-se à humanidade que conhecemos
na Crosta. Situam-se
entre o raciocínio fragmentário do macacoide e a idéia simples do homem
primitivo na floresta”.
Eurípedes Kuhl nos apresenta
conceitos similares, como: “Os animais evoluem dentro das espécies. Engenheiros Siderais
altamente credenciados por Jesus, realizam, nos diferentes corpos espirituais
dos indivíduos selecionados em cada espécie, as necessárias modificações ou
transformações, assim, acréscimos ou subtrações de caracteres morfológicos ou
biológicos adaptam os organismos às mudanças do panorama terrestre. Esse o roteiro
para o reino hominal”.
Celso Martins também demonstra em
sua obra numerosos exemplos de manifestações inteligentes dos animais, comprovando que eles
também têm emoções e sentimentos. Descrevemo-nos a evolução anímica através de
citações espíritas e fatos narrados por diversas pessoas. Aborda ainda os
aspectos da linguagem e inteligência dos animais.
Jorge Andrea faz uma explanação
sobre animais desencarnados: “O espírito animal, após afastamento do corpo pela
desencarnação, ainda não apresenta condições mentais para sustentar-se no plano
espiritual.
É impulsionado, por sintonia, para o lado da espécie a que pertença, a fim de
aguardar a oportunidade de nova encarnação”.
Cita, então, André Luiz: “Os animais, quando não se fazem
aproveitados na Espiritualidade, em serviço ao qual se filiam durante certa
cota do tempo, caem, quase sempre de imediato à morte do corpo carnal, em
pesada letargia, acabando automaticamente atraídos para o campo genésico das
famílias a que se ajustam.
Marcel Benedeti é autor de várias
obras espirituais relativas à alma dos animais. Dentre elas, destacamos “A
espiritualidade dos animais”, na qual o autor aborda em formato de questões e
respostas essa temática.
Discorrendo sobre o planejamento reencarnatório dos animais, o autor
diz que em caso de animais em escala evolutiva mais primitiva (insetos) já existe
um modo padronizado preestabelecido para cada espécie, enquanto que para
animais superiores (mamíferos) há tanto um planejamento padrão como um mais
individualizado, em alas compartilhadas por um menor número de indivíduos.
Durval Ciamponi discorre sobre o “elo” entre o
mundo das formas e o mundo espiritual. Sua abordagem sobre a individualização do
princípio inteligente, a transição pelos reinos inferiores, períspirito e progressão
da alma é imperdível para o estudante da evolução anímica.
Também expõe, de maneira bem didática, um gráfico
simbolizando a evolução do princípio espiritual em transição através dos reinos
da natureza, no qual o autor inclui referencias de “O Livro dos Espíritos”
apropriadas a cada fase evolutiva.
Para finalizar, destacamos a obra que, em nosso parecer, aborda
impecavelmente a visão espírita e cientifica da atualidade
Em seu livro “A questão Espiritual dos Animais”, Irvenia Prada nos deixa um legado de
aprendizado ímpar, utilizando-se do formato “discussão”, o qual ela explora
muito bem, pois nos leva a reflexões profundas.
Encontramos temas como o pensamento dos animais, a interação
cérebro-mente, desencarne e reencarnação, erraticidade, figuras animais no
plano espiritual, mediunidade, carma e sofrimento, espíritos da natureza, e alguns relatos de
vidência de animais contados por Chico Xavier, Divaldo Franco e Miltes de
Carvalho Bonna. Vejamos algumas anotações da autora:
O espírito humano evolui do “principio espiritual dos animais”, e estes
possuem alma. Quanto mais desenvolvido o sistema nervoso de uma determinada
espécie animal maior capacidade funcional terão os indivíduos desta espécie de
se expressar em comportamentos mais elaborados, é o caso dos golfinhos e
chipanzés,
haja vista a macaca Washoe que aprendeu a se comunicar com as pessoas através
da linguagem dos surdos-mudos, que lhe foi ensinada.
Segundo meu entendimento, um pensamento descontínuo, expresso em ondas
fragmentárias, não estaria compatível com a riqueza de conteúdo mental desses
animais
(chipanzés) não podemos generalizar, pois existem animais e animais.
Muito mais do que supomos, os animais são assistidos em seu desencarne,
por espíritos zoófilos, que os recebem no plano espiritual e cuidam deles. Há vários tipos de
atendimento para os animais desencarnados, especialmente para os casos de morte
brusca ou violenta, possibilitando melhor recuperação de seu perispírito. A finalidade da
reencarnação dos animais é sempre a de progresso.
Esperamos que esta pequena revisão da literatura espírita venha
trazer aos leitores interessados pela matéria, fontes acessíveis a maiores
explorações intelectuais e a reflexões profundas quanto a nossa responsabilidade para com
nossos irmão inferiores.
Estes seres, que assim como nós, são criados por Deus para que o
progresso do espírito se realize, merecem todo nosso carinho e amor. Afinal, por que
existem os animais? É ainda Irvenia Prada que nos coloca a seguinte reflexão:
“Penso que basta entender que eles existiram e existem por razões
intrínsecas a si próprios, a matéria compartilhando com o “Principio Inteligente”
sua evolução. A verdade é inexorável: nós mesmos já existimos neles!
Não há animais de uma lado e nós, seres humanos, de outro. Somos todos
espíritos na vivência dos infinitos degraus do processo evolutivo, do qual os seres
humanos deste ínfimo planeta, por mais que sua pretensão assim o deseje, não
representam o ponto final.”
Compilado da Revista Presença Espírita
Texto de Sheila Andreatta-van Leyen