Quando o sono é inimigo

O sono foi dado ao homem para a reparação de suas forças orgânicas, informa-nos Allan Kardec. Isso não quer dizer que estejamos a dormir a qualquer hora. Há momento próprio para o sono. Não se poderia imaginar alguém dormindo ou mesmo cochilando no exercício de seu trabalho profissional, cuidando de uma criança na escola, assistindo a uma aula ou dirigindo automóvel.

O sono à hora em que se impõe à vigília torna-se inimigo cruel, diz-nos o Espírito Viana de Carvalho, referindo-se à sonolência nas reuniões espíritas. Conseqüentemente, é estranhável que consideremos uma reunião espírita um acontecimento banal, a ponto de nela cochilar, julgando-a menos importante que nosso trabalho profissional ou uma aula a que assistamos num educandário do mundo, ocasiões em que normalmente permanecemos em vigília. Não se justifica, pois, entregar-se ao sono nos estudos, palestras, reuniões mediúnicas ou demais atividades na seara espírita.

Nós, encarnados, sempre procuramos, consciente ou inconscientemente, justificar atos, fato a que psicólogos chamam de racionalizar. E, para justificar o adormecimento no ambiente da casa Espírita, é comum ouvir-se o seguinte: 1) Estar cedendo fluidos para ajudar o orador; 2) Trata-se de desprendimento mediúnico para trabalhar em parcial desdobramento. 3) Terceiros alegam que em espírito aprendem melhor, adquirindo cabedal que retorna à consciência no momento próprio. São alegações “desculpistas”, sem fundamento, carente de lógica.

Viana de carvalho diz-nos textualmente o seguinte: Impostergável o esforço em combater a epidemia da sonolência nas atividades e estudos Doutrina Consoladora. É certo que o cansaço, o esgotamento físico, aliados à monotonia ou falta de motivação do orador podem, às vezes, dar origem à sonolência, representando isso, porém, a maioria das causas, funcionando, na realidade, mais como fatores predisponentes.



Na maioria dos casos, a origem do adormecimento nas reuniões espíritas reside na ação espiritual inferior, na interferência de mentes viciosas do Mundo Espiritual, operando magneticamente, predominantemente à distância, para que as pessoas, adormecendo, não se liguem ao tema edificante da reunião e assim não se beneficiem.

O mentor Aulus, respondendo a uma indagação de André Luiz sobre o assunto, informa-nos que as entidades inferiores operam nas reuniões com objetivo de “envolver” os desatentos em fluidos entorpecentes, conduzindo-os ao sono provocado, para que se lhes adie a renovação.

A explicação é ratificada pela irmã Zélia quando, participando de uma reunião, aponta para uma médium que cochilava e pergunta a Otília Gonçalves: Notas algo? Sim, está dormindo. Exatamente, o fenômeno aí chama-se “hipnose à distância”. Seu perseguidor ficou na retaguarda; no entanto, continua ligado ao pensamento, pela idéia. Portanto, isso nos esclarece que não há necessidade de os Espíritos entrarem na Casa Espírita para provocar sono nos assistentes. Em muitos casos (talvez maioria), eles atuam telepaticamente, de longe, o que a irmã Zélia cognomina Hipnose à distância.



O fenômeno reveste-se de maior gravidade quando o sono, ao invés de ser ocasional, ocorre habitualmente, o que pode caracterizar uma obsessão em curso. Nenhuma chance deve se dar ao sono, nos recintos de estudo e aprendizado, locais de meditação e prece, santuário de intercâmbio mediúnico e de iluminação interior. (Viana de Carvalho)



Eis porque o espírito Marco Prisco nos adverte a respeito: Se irrefreável torpor lhe domina a lucidez, quando convocado ao serviço do bem geral, observe o sinal vermelho de alarme chamando-lhe atenção. Pode ser cansaço, talvez seja sono mesmo. Se, porém, é habitual essa situação, ou você está doente de “narcolepsia” (sono incontrolável) ou insidiosa obsessão está assenhoreando-se de suas forças.



O fenômeno de adormecimento nas reuniões pode ser facilmente explicado pelo que se contém em “A Gênese”, onde Kardec nos instrui que os espíritos agem pelo pensamento sobre os fluidos, “dando-lhes propriedades especiais”, podendo ser “excitantes, calmantes, irritantes, dulcificantes, soporíficos (produz sono) narcóticos (que faz dormir)”. E prossegue esclarecendo que atuando os fluidos sobre o perispírito dos encarnados, este os assimila (como uma esponja se embebe de líquido) e, a seu turno, reage sobre o organismo material com que se acha em contato molecular.

Ora, as entidades adversárias do progresso, através da atuação mental, dão propriedades soporíferas, narcóticas, aos fluidos, e, com eles, tentam envolver os assistentes e demais participantes da reunião, sendo facilmente assimiláveis pelos que estão acomodados, enfadados (como se estivessem ali apenas fazendo um favor ou cumprindo um dever), indiferentes, desatentos muitas vezes totalmente desligados da atmosfera nobre do ambiente, mentalizando assuntos do dia-a-dia.



Com base na orientação dos Espíritos, damos algumas sugestões para evitar situações predisponentes ao adormecimento nas reuniões espíritas:

1) Se possível, ensejar-se a um “relax”, antes de dirigir-se à Casa Espírita, fazendo o devido refazimento do corpo e do espírito; 2) Antes de sair do lar, preparar-se interiormente, através de leitura salutar, prece e meditação, ligando a tomada para o Alto, retirando-se das vulgaridades do “terra-a-terra”; 3) Poupar-se à alimentação exagerada de difícil assimilação (estômago cheio, cérebro inábil); 4) Motivar-se para a reunião, conscientizando-se de que ela é um ato nobre, de doação espiritual e refazimento interior (pois é dando que se recebe), ao invés de encará-la como um encontro rotineiro, social ou como um dever ou obrigação enfadonha.

5) Se houver conversação antes de entrar na sala da reunião, esta deverá ser boa e edificante, de modo a auxiliar a psicosfera do recinto ao invés de conturbá-la com temas negativos: reprovações, críticas, anedotas, queixas, azedume, comentários de enfermidades, temas vulgares etc. (a absorção de fluidos perniciosos de psicosfera saturada negativamente também provoca sono); 6) Após a entrada na sala, se possível, manter-se em silêncio e recolhimento e, enquanto aguarda o início dos trabalhos, ler obra doutrinaria ou concentrar-se em ideações superiores; 7) Sentar-se bem, evitando situações de excessivo desmazelo, o que predispõe ao adormecimento; 8) Ligar-se ao tema exposto, dinamicamente, e não “arrastar-se mentalmente” ou “voar o pensamento”, fixando-se nas ocorrências do dia-a-dia; 9) Ante os primeiros sintomas do torpor, orar, renovando a paisagem psíquica.

Sugestões importantíssimas para aqueles que dormem habitualmente, nas reuniões espíritas. A luta contra o adormecimento nas atividades espíritas deve ser encarada seriamente, razão porque encerramos este artigo, lembrando a recomendação de Viana de Carvalho (espírito) sobre o assunto: Ou o candidato vence o sono ou o sono, desta ou daquela procedência, especialmente o produzido pelos espíritos inferiores, inutiliza o aprendiz das lições superiores.



Notas e referências:
(1) Mensagem de Viana de Carvalho, em Nova Lisboa, psicografada por Divaldo Franco, sob o título O sono inimigo.
(2) O Evangelho segundo o Espiritismo, Cap. XXVI, item 38.
(3) Nos domínios da Mediunidade, de André Luiz, Cap. IV
(4) Além da morte, de Otília Gonçalves. Cap. XXVI.
(5) Sementeira da Fraternidade. Cap. 37.
(6) A Gênese. Cap. XIV.