A mediunidade curadora e o magnetismo
Revista Espírita - 09/1865 - Allan Kardec
O
conhecimento da mediunidade curadora é uma das conquistas que devemos ao
Espiritismo. Os médiuns que obtêm as indicações de remédios da parte dos Espíritos
não são o que se chama médiuns curadores, porque não curam por si mesmos; são
simples médiuns escreventes que têm uma aptidão mais especial do que outros para esse
gênero de comunicações, e que, por essa razão, podem se chamar médiuns consultores,
como outros são médiuns poetas ou desenhistas.
A
mediunidade curadora se exerce pela ação direta do médium sobre o doente, com a ajuda
de uma espécie de magnetização de fato ou pensamento. Quem diz médium diz
intermediário. Há esta diferença entre o magnetizador e o médium curador, pois
que o
primeiro magnetiza com o seu fluido pessoal, e o segundo com o fluido dos
Espíritos,
ao qual serve de condutor.
O
Espírito pode agir diretamente, sem intermediário, sobre um indivíduo, assim
como se pôde constatar em muitas ocasiões, seja para aliviá-lo, curá-lo se isto
se pode, ou para produzir o sono sonambúlico. Quando se age por intermediário, é o
caso da mediunidade curadora. O médium curador recebe o influxo fluídico
do Espírito, ao passo que o magnetizador haure tudo em si mesmo.
Mas os
médiuns curadores, na estrita acepção da palavra, quer dizer, aqueles cuja
personalidade se apaga completamente diante da ação espiritual, são
extremamente raros, porque esta faculdade, elevada ao seu mais alto grau,
requer um conjunto de qualidades morais que raramente se encontra sobre a Terra;
somente eles podem obter, pela imposição das mãos, essas curas instantâneas que
nos parecem prodigiosas; muito poucas pessoas podem pretender este favor.
O
orgulho e o egoísmo sendo as principais fontes das imperfeições humanas, disso
resulta que aqueles que se gabam de possuir esse dom, que vão por toda a parte
enaltecendo as curas maravilhosas que fizeram, ou que dizem ter feito, que
procuram a glória, a reputação ou o proveito, estão nas piores condições para
obtê-la, porque esta faculdade é privilégio exclusivo da modéstia,
humildade, devotamento e do desinteresse. Jesus dizia àqueles que tinha curado: “Ide
dar graças a Deus, e não o digais a ninguém.”
A
mediunidade curadora pura sendo, pois, uma exceção neste mundo, disso resulta
que há
quase sempre ação simultânea do fluido espiritual e do fluido humano; quer
dizer, que os médiuns curadores são todos mais ou menos magnetizadores, é
por isso que agem segundo os procedimentos magnéticos; a diferença está
na predominância de um ou de outro fluido, e na maior ou na menor rapidez
da cura.
Todo
magnetizador pode se tornar médium curador, se sabe se fazer assistir pelos
bons Espíritos; neste caso os Espíritos lhe vêm em ajuda, derramando sobre ele
seu próprio fluido que pode decuplicar ou centuplicar a ação do fluido
puramente humano.
Os
Espíritos vão para onde querem; nenhuma vontade pode constrangê-los; eles se
rendem à prece, se é fervorosa, sincera, mas jamais à injunção. Disso resulta que a
vontade não pode dar a mediunidade curadora, e que ninguém pode ser médium
curador de desejo premeditado. Reconhece-se o médium curador pelos resultados que
obtém, e não pela sua pretensão de sê-lo.
A
mediunidade curadora é uma aptidão, como todos os gêneros de mediunidade,
inerente ao indivíduo, mas o resultado efetivo dessa aptidão é independente de
sua vontade. Ela se desenvolve, incontestavelmente, pelo exercício, e
sobretudo, pela prática do bem e da caridade.