Nas Fronteiras da Loucura – 13 Parte

Nas Fronteiras da Loucura
Manoel P. de Miranda - Divaldo Pereira Franco
Centro Espírita Nosso Lar – Grupo de Estudos das obras
de André Luiz e de Manoel Philomeno de Miranda.

58. No desfile de fantasias

O drama de Noemi possuía as tintas fortes das tragédias. Com efeito, não é difícil imaginar a dor e as dificuldades que a jovem decepcionada teria de enfrentar doravante, sem o arrimo do pai querido e traída pelos seus entes mais chegados: a mãe e o marido.

O quase seccionamento do nervo do braço esquerdo dei­xaria alguma seqüela, tornando mais difícil ainda a sua atual experiência no mundo das formas. Aqueles dias de Carnaval mostravam mais uma vez quantas dores poderiam ser evitadas, caso as criaturas prefe­rissem atitudes e comportamentos diversos.

Tudo em a Natureza convida à paz e ao amor, mas o atavismo das paixões primitivas se interpõe en­tre o homem e a felicidade. Manoel P. de Miranda recordou, então, que ele estivera com Dr. Bezerra, na segunda-feira de Carnaval, num sun­tuoso Teatro, onde se daria um conhecido desfile de fantasias. Razões importantes os levaram ali, no desempenho do ministério do auxílio a que se dedicavam.

Nos bastidores do teatro, era inocultável a luta, em que as intrigas e diatribes confundiam-se com as promessas de agressões físicas e escândalos, entre palavras  ásperas e vulgares.

As paixões afloravam, extravasando em torrentes de desequilíbrio, e Espí­ritos de aspecto bestial e lupino, verdugos e técnicos de vampirização do tônus sexual, em promiscuidade alarmante com inúmeros encarnados, ali se misturavam, comprazendo-se uns e outros, como autênticos para­sitas, em osmoses psíquicas de avançado grau.

Inobstante o brilho das sedas e das pedrarias, dos paetês e dos bordados fulgurantes, o am­biente dava mostras do baixíssimo teor de vibrações viciosas que ali tresandava. Muitos foliões haviam-se afadigado por longos meses na confecção das fantasias, praticamente vivendo a psicosfera da ilusão, e diversos deles estavam exaustos, tendo consumido tempo e dinheiro que poderiam ter sido mais bem aplicados no sentido da manutenção da vida e salvação de muita gente.
(Cap. 15, pp. 111 e 112)

59. Lembrando o passado

Vendo ali indivíduos vestidos como reis e rainhas, nobres e conquistadores, clérigos e personagens diversos, cujas fantasias fariam inveja àqueles a quem copiavam, Dr. Bezerra in­formou: Muitos estudiosos apressados da reencarnação mantêm veleida­des e idéias fantasiosas que os agradam, em torno do passado espiri­tual.

Identificam-se nas roupagens físicas de antigos nobres e generais, reis e conquistadores, prelados ilustres e de alta categoria hierárquica nas ordens eclesiásticas, de artistas famosos, perdendo tempo precioso em pesquisas e comparações de valor secundário, levan­tando o passado, para se satisfazerem no presente sem a necessária consideração pela oportunidade nova.

Diversos desses precipitados e descuidados adeptos do reencarnacionismo não se querem dar conta de que, se viveram personificações célebres e ainda permanecem na Terra, é porque faliram dolorosamente nos empreendimentos com que a Vida os convidou a exercer para crescimento moral e deslustraram por or­gulho, desmedida ambição, desrespeito à bênção que não mereciam, mas a rece­beram como misericórdia de acréscimo.

E acrescentou: Em se con­firmando alguns casos como verdadeiros, isso tem a finalidade reeduca­tiva, exigindo reparação urgente e não motivo de disfarçada vaidade pelo que foram com total olvido do que são.

Dr. Bezerra de Menezes lembrou que as desincumbências dos compromissos de elevação fazem-se mais difíceis nas altas esferas sociais do mundo, em cujas faixas enxameiam perturbações e convites à queda, tentações sem nome, fraudes, tormentos e traições, explicando, logo em seguida, que alguns dos fantasiados ali presentes, que imitavam trajes antigos, eram as próprias personagens que retornavam ao proscênio do mundo, falidos lamentavelmente, imi­tando com carinho e paixão a situação que indignificaram quando a exerciam. (Cap. 15, pp. 113 e 114)

60. O monarca fracassado

Dr. Bezerra referiu-se então aos indi­víduos da nobreza que enlouqueceram na ociosidade e, agora, meditam em profundas frustrações que os tornam insatisfeitos; aos monarcas que vulgarizaram a investidura com que mergulharam no mundo para servir e, hoje, repetem os textos do drama da vida, em situações ridículas; aos religiosos que corromperam os altos compromissos e ora estão crucifi­cados nos madeiros invisíveis de problemas íntimos que os amarguram; aos vencedores do mundo que não venceram a si mesmos e revestem-se, então, de não esquecidas indumentárias, servindo de bufos para as mul­tidões que os aplaudem ou criticam, invejam ou perseguem; aos burgue­ses frívolos que expiam nesta oportunidade, sob duras injunções mo­rais, o tempo perdido.

Todos eles merecem não somente nosso  res­peito e consideração, mas também compreensão, afeto e piedade de todos nós, acentuou Dr. Bezerra, que arrematou nestes termos suas obser­vações: As marcas de determinadas reencarnações não desaparecem, de um para outro momento, das tecelagens sutis do Espírito, que renasce no corpo, sofrendo-lhes os efeitos.

Jesus escolheu os andrajos modes­tos, os convívios da dor e do sofrimento humano, as situações do pro­letariado sem esperança para dignificar a ascensão das almas que se retemperam nos testemunhos da pobreza e da simplicidade. Não desconsi­derou os bens do mundo, nem os seus transitórios detentores, ofere­cendo-lhes, várias vezes, oportunidade de privarem com Ele e Suas lições, mas não se deteve ao lado das suas transitórias posições e mandos.

Nesse ponto o desfile começou e logo foi chamado o primeiro candidato da noite, cuja fantasia lembrava conhecido monarca que se celebrizou pela vulgaridade, sensualidade e vandalismo. Quando ele avançou para a passarela, debaixo dos remoques  ácidos dos Espíritos que pululavam no recinto, Dr. Bezerra asseverou: Guarde-o Jesus, bem assim a todos que aqui estão, na sua passeata de ilusão. Por mais que se demore o sonho, será inevitável o acordar.

Da sala nobre e bela do palácio, em que fracassou e comprometeu-se, o irmão ressurge em tra­vestimento brilhante, num palco de mentira, recebendo a homenagem de uma glória ligeira, com serpentinas, confetes e lágrimas de dor, numa triste e enganosa noite de Carnaval. Aprendamos, desse modo, a es­colher “a boa parte, aquela que não nos será  tirada” , conforme o en­sino do Mestre no diálogo mantido com Marta, no abençoado lar de Betâ­nia.  (Cap. 15, pp. 114 a 116)

61. O mistério da morte

Ao cair da tarde, Philomeno visitou Fá­bio e seu amigo, que se recuperavam na Enfermaria através da terapia do sono. Eles se apresentavam agitados, demonstrando experimentar as dores acerbas que os faziam despertar, com fácies alucinada.

Dr. Bezer­ra esclareceu: É chegado o momento da inumação cadavérica. As famílias, em dor superlativa, lamentam o infausto acontecimento que as dilacera e chama-os, nominalmente, com exclamações de inconformismo, que se transformam em agentes mentais dilaceradores, que os alcançam. Eles ouvem e não entendem o que se passa. Não têm idéia do que lhes sucedeu, nem sequer possuem qualquer preparo para o retorno, nesta circunstância.

Dito isto, aplicou em ambos expressiva carga de energia anestesiante, que os acalmou. Em seguida informou: Este é um dos instantes mais difíceis para o recém-desencarnado que perdeu o corpo, sem dele libertar-se. Há, como é natural, em casos desta e de ordem semelhante, um apego aos despojos físicos muito acentuado.

De­mais, os vínculos familiares são fortes cadeias que amarram as criatu­ras umas às outras, nestas horas mais poderosos, quando se percebe a nulidade de qualquer recurso que atenue a angústia de uma separação, que muitos ainda supõem eterna.

A morte, em tais situações, trans­forma-se em fator preponderante de neuroses e psicoses mais profundas, que conduzem a loucuras, ao suicídio, porque até hoje, lamentavel­mente, as religiões tradicionais não souberam preparar a criatura hu­mana para a problemática da morte, tarefa grandiosa que compete ao Es­piritismo, diluindo das mentes o pavor da morte e educando os homens sobre a maneira de encará-la.

Dr. Bezerra mencionou, então, nesse sen­tido, a importância das sessões práticas ou mediúnicas do Espiritismo e sua função consoladora que, além de servirem de medicação para os Espíritos dos dois lados da vida, constituem prova cabal da sobrevi­vência. (Cap. 16, pp. 117 e 118)

“A publicação do estudo continuará
nas próximas semanas”