Transição planetária

Mais alguns sinais da transição planetária
Anselmo Ferreira Vasconcelos

Como a demonstrar o seu justificado descontentamento com a inclemência humana, a natureza vem se rebelando de maneira onipresente. Afinal, é raro não se ver na atualidade um ponto da Terra que não esteja enfrentando algum tipo de anomalia climática ou desequilíbrio no meio ambiente.

Ao que tudo indica, estamos acordando muito tarde para as consequências dos nossos atos coletivos. As providências tomadas são lentas e os seus efeitos demoram a dar resultados positivos. A verdade é que na sua sanha de “progresso” o homem tornou a natureza refém e ela agora, por sua vez, lhe manda a conta.

Nesse sentido, vale recordar o pensamento de Allan Kardec, conforme se lê na obra A Gênese: “O homem recebeu em partilha uma inteligência com cujo auxílio lhe é possível conjurar, ou, pelo menos, atenuar os efeitos de todos os flagelos naturais.

Quanto mais saber ele adquire e mais se adianta em civilização, tanto menos desastrosos se tornam os flagelos. Com uma organização sábia e previdente, chegará mesmo a lhes neutralizar as consequências, quando não possam ser inteiramente evitados.

Assim, com referência, até, aos flagelos que têm certa utilidade para a ordem geral da Natureza e para o futuro, mas que, no presente, causam danos, facultou Deus ao homem os meios de lhes paralisar os efeitos”.

Mas nesse processo insano de exploração econômica e de espoliação dos recursos naturais, há muito as grandes nações do planeta vêm se destacando pela irresponsabilidade da sua omissão.

Claramente desinteressadas em capitanear as necessárias transformações paradigmáticas, talvez até para não desagradar determinados grupos e setores que poderiam se sentir prejudicados, elas agora se encontram às voltas com uma dura realidade marcada por constantes tragédias coletivas geradas, sobretudo, pelas incontroláveis mudanças climáticas.

Assim tem sido, por exemplo, com os Estados Unidos da América. A rica, poderosa e influente nação do norte, portadora de um patrimônio cultural invejável, de um arsenal militar inigualável e de cérebros humanos da mais alta competência e valor, encontra-se vergastada pelos açoites da natureza.

Cada vez mais, a fúria de dezenas de tornados, tempestades e furacões atinge o solo da admirável nação destruindo-lhe valores preciosos e afetando duramente a vida de milhares dos seus concidadãos.

Não foi, aliás, diferente com o furacão Sandy que, com ventos de mais de 130 quilômetros por hora, expôs toda a fragilidade humana diante de certos eventos naturais. Na revista Veja pode-se ler que: “O furacão alterou a vida de 50 milhões de americanos em meia dúzia de estados.

Sem transporte nem energia, os moradores de Nova Jersey foram os mais afetados”. Mostrando a real magnitude da tragédia, as imagens exibidas pelas TVs eram estarrecedoras, ou seja, caos e destruição por toda a parte. Por mais que se apresentem estimativas financeiras, o fato é que os prejuízos são incalculáveis.

De um momento para o outro,
pessoas perderam tudo que acumularam durante uma vida. Muitos imploravam aos prantos ajuda ao presidente americano e às equipes de socorro, pois não tinham o que comer, beber ou vestir.

Um motorista de táxi de Nova Iorque, cansado de esperar horas a fio pela sua vez de abastecer o tanque de combustível do seu do carro, declarou: “Nós somos a maior nação do mundo e deveríamos estar preparados para isso”.

Certamente que há grandes lições a serem aprendidas nesse episódio. Uma delas talvez seja a de entender definitivamente que
somos partes da criação divina, o que não nos dá o direito de destruí-la.

Como se lê em A Gênese: “[...] lançando o olhar em torno de si, sobre as obras da Natureza, notando a providência, a sabedoria, a harmonia que presidem a essas obras, reconhece o observador não haver nenhuma que não ultrapasse os limites da mais portentosa inteligência humana. Ora, desde que o homem não as pode produzir, é que elas são produto de uma inteligência superior à Humanidade, a menos se sustente que há efeitos sem causa”.

Outra mostra com clareza que tais episódios expõem os limites humanos. Dito de outra forma, apesar de toda a excelência dos modelos matemáticos de previsão do tempo e sistemas de comunicação,
há aparentemente um sentimento de impotência diante de coisas que não se domina.

Em outras palavras, esses arroubos da natureza têm vida própria e não há poder na Terra que possa lhes “segurar as vontades”. De certa maneira, eles “caçoam” de nós como se dissessem: “vocês não podem tudo” ou “sintam um pouco da dor que nos causam seus orgulhosos e inconsequentes”, ou ainda, “vocês não são deuses”.

A prestigiosa revista The Economist lembrava recentemente sobre um estudo chamado “Visão 2020” sobre a cidade de Nova Iorque,
no qual se indicava a necessidade de implantação de mais diques, muros de contenção das marés e edifícios à prova de inundações, entre outras coisas.

Sem dúvida que em decorrência dos acontecimentos, novas providências e medidas serão tomadas a fim de se tentar domar as forças da natureza, uma luta sem tréguas. Afinal de contas, como esclarece Kardec na referida obra:

“Tendo o homem que progredir, os males a que se acha exposto são um estimulante para o exercício da sua inteligência, de todas as suas faculdades físicas e morais, incitando-o a procurar os meios de evitá-los. Se ele nada houvesse de temer, nenhuma necessidade o induziria a procurar o melhor; o espírito se lhe entorpeceria na inatividade; nada inventaria, nem descobriria. A dor é o aguilhão que o impele para frente, na senda do progresso”.

Nesse momento, portanto, o apego a Deus, a profunda reflexão, o cultivo da prece e a busca de forças interiores são essenciais para se ter resistências e coragem diante da provação imposta.
Nenhum povo da Terra está isento dos efeitos da transição planetária e os recursos do mais alto nos fazem ver o nosso real valor e significado.