Os Frutos da Terra

Os frutos da terra, na visão do filósofo Herculano
Do Livro O Reino - Maria Eny Rossetini Paiva

Deus quer que a riqueza se espalhe no Mundo. A riqueza é a herança de Deus e o apóstolo Paulo ensinou
: “Somos herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo”. Ai daquele que pretender empobrecer os homens e empobrecer a Terra. Este pequeno mundo não foi lançado na rota dos mundos para se tornar miserável, um mendigo do Espaço. Seu destino é a grandeza Universal, a glória do Infinito, a riqueza inumerável do Céu.

O Mensageiro do Reino me disse um dia: Pensais que Deus é Deus de pobres e esfarrapados? Os mundos mais próximos de Deus são de maravilhosa riqueza, transbordantes de cintilações. Não vistes a descrição da Jerusalém Celeste no Apocalipse? O Reino é rico, mas a riqueza do Reino é abundante e impessoal. O que faz a pobreza é a riqueza pessoal.

Há um caruncho da alma: o egoísmo. Esse caruncho destrói a maior riqueza do Universo que é o Espírito, quando o homem se julga dono pessoal dos frutos da terra. (Capítulo III do livro O Reino – Os Frutos da Terra, de Herculano Pires. (Ver questão 711 de O Livro dos Espíritos, no final da postagem).

Herculano aproveita a lição da árvore, que não guarda os frutos para si, mas os utiliza para semear e sobreviver, produz em abundância para pássaros e vermes, colabora com os ventos e perfuma a atmosfera. Maria de Nazaré exclama, segundo a tradição no Evangelho que Jesus, o Senhor, “depôs do trono os poderosos e elevou os humildes; encheu de bens os que tinham fome e despediu vazios os que eram ricos”.

Indaga o escritor que estudamos: “Que são os bens senão os frutos da Terra?” Maria previu em sua intuição de mãe, inspirada pelo Espírito, a redistribuição dos frutos da terra, para que o Amor e a Justiça do Reino triunfem entre os homens.

Que direito tem um homem de cercar uma árvore ou muitas árvores, de torná-las suas escravas particulares, de arrebatar-lhes sistematicamente os frutos para transformá-los em riqueza pessoal? A riqueza dos frutos é para todos!

Os que entesouram só para si, escreve o filósofo, se organizam em associação, trustes, monopólios. Pegam os frutos das árvores, os frutos da terra, os minérios, os frutos dos rios e mares, os peixes e mariscos, sugam os lençóis subterrâneos, e de tudo fazem moedas ingênuas, com as quais escravizam os outros, exploram povos, multidões, e ainda se acham benfeitores.

Subvertem regimes, alteram governos, tripudiam sobre os povos. Mas, conforme ensina Jesus: um dia Deus lhes vem pedir a alma tola e apaga das gerações a memória mentirosa que quiseram formar. O homem do futuro, o habitante do Reino, entenderá que a sua alma, o seu Espírito, é a sua maior riqueza.

Que é seu espírito que merece ser cultivado, educado, burilado. É seu espírito que ele deve enriquecer, sua alma precisa entender todas as coisas do mundo para usar seu trabalho e conhecimento em benefício de todos.

De novo, O Mensageiro do Reino, que está presente em cada capítulo, ensina: “Os frutos e as pedras da terra devem servir aos vossos corpos na medida do necessário, mas podeis convertê-los em estrelas e sóis pela magia do Espírito. Não existe mais bela alquimia. Sede os alquimistas da caridade!”.

Diversamente do que nossa mente viciada por séculos de tradição religiosa católica, evangélica, orientalista, ou islâmica, possa interpretar esse ensino angelical, também contido em “O Livro dos Espíritos”, ser alquimista da caridade não significa fazer caridade com o que for sobrando de nossa fortuna pessoal.

O alquimista da caridade sabe que a função social de sua empresa está acima de seus interesses pessoais e procura, como mostramos no estudo anterior, dividir, com os que trabalham e o auxiliam a enriquecer, os frutos do trabalho, o possível do lucro.

Não se julga melhor do que ninguém por ser mais capaz e melhor gerente, com maior visão ou maior capacidade de trabalho. Sabe que tudo é de Deus e que suas posses são apenas o momentâneo poder que lhe é dado para distribuir com todos os que também laboram transformando o mundo e a vida. (Capítulo XVI – O Evangelho segundo o Espiritismo, item 10.)

Assim, conforme ensina o Mensageiro do Reino, não entesouremos nada em prejuízo dos outros. Tudo o que possuirmos, só será legítima propriedade nossa se for adquirida sem prejuízo de outrem, ensinam os Mensageiros da Luz em suas Instruções em “O Evangelho segundo o Espiritismo”.

Anexos:

Pergunta 711- O uso dos bens da terra é um direito para todos os homens? Resposta: Esse direito é a conseqüência da necessidade de viver. Deus não pode ter imposto um dever sem haver dados os meios de o satisfazer.

Os bens da Terra pertencem a Deus, que os dispensa à sua vontade, e o homem deles não é senão o usufrutuário, o administrador mais ou menos íntegro e inteligente. Eles são tampouco propriedade individual do homem porque Deus, frequentemente, frustra todas as previsões e a fortuna escapa daquele que crê possuí-la pelos melhores títulos. (Capítulo XVI – início do item 10).

“(...) e se há uma fortuna legítima, é esta, quando adquirida honestamente, porque uma propriedade só é legitimamente adquirida, quando, para a possuir, não se fez mal a ninguém. Será pedido conta de uma moeda adquirida em prejuízo de outrem. (Capítulo XVI – item 10 §2°).