A Caridade Segundo o Apóstolo Paulo
O
que é a caridade? Seria darmos esmolas, levarmos comida aos necessitados,
comprarmos uma rifa beneficente? Fazer isso nos daria a consciência tranqüila
do dever cumprido como cristãos?
Paulo, nesta passagem, mostra aos cristãos de Corinto que a caridade é algo
muito mais profundo e importante do que apenas darmos o que nos sobra aos
carentes. Embora isto também seja um ato caritativo, não resume a grandiosidade
desta virtude.
"Ainda que eu
falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse caridade, seria como o
metal que soa ou como o sino que tine".
Conheceremos se a árvore é boa pelos frutos,
alertou Jesus. Caso contrário, a palavra será como o sino que tine, ou seja, fará
muito barulho e chamará a atenção, mas não modificará os corações e
inteligências a que é direcionada.
"E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os
mistérios e toda a ciência e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que
transportasse os montes, e não tivesse caridade, nada seria."
Ter
conhecimento espiritual não faz do ser um indivíduo caridoso. É Jesus mesmo que
se diz agradecido a Deus, por haver escondido os mistérios divinos dos sábios e
os revelado aos simples (Mateus, cap. XI), referindo-se ao sentimento e à fé
nos ensinamentos espirituais.
A mediunidade e o entendimento das Leis do
universo dão sim ao ser maior responsabilidade frente à vida, e de posse disso
devem seus detentores modificar suas condutas e buscar a humildade.
A fé também não é sinônimo de caridade, pois
sem obras é morta,
segundo o apóstolo Tiago, em
sua Epístola , cap. II, vers. 17. Com a afirmativa de que por
mais fé que tivermos em Deus e em nossas próprias forças nada seremos se não
tivermos a caridade, Paulo chama a atenção dos religiosos em geral.
Muitos de nós acreditamos que a crença
inabalável é porta aberta para ajuda do Alto. Porém, se não nos ajudarmos,
praticando aquilo em que cremos através do bom exemplo, qual a vantagem de possuir fé?
"E ainda que
distribuísse toda a minha fortuna para sustento dos pobres, e ainda que
entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse caridade, nada disso me
aproveitaria".
Dar
esmolas e acabar com a necessidade material do próximo é muito importante. Mas
preciso é alertar às pessoas que tudo depende da intenção. Se fizermos a doação
material com o objetivo de aparecermos aos outros, ou então para aliviarmos
nossa consciência, estaremos nos enganando.
Além disso, corremos o risco de ajudar ao
necessitado, mas humilhá-lo ao mesmo tempo, com um ar de superioridade que o
ferirá. A doação desinteressada deve
brotar da compreensão da Lei de Deus, tornando-nos irmãos de quem ajudamos e
tendo como único fim o amparo e alívio do sofredor.
Ainda neste trecho, Paulo instrui de que nada adianta nos auto-flagelarmos, com
o intuito de mostrarmos para quem nos vê que somos crentes em Deus. Mais importante
que castigar o corpo, com privações e sofrimentos, é sufocar as más tendências,
verdadeiras mães de nossas desgraças.
"A caridade é
sofredora, é benigna; a caridade não é invejosa; não trata com leviandade; não
se ensoberbece".
O
apóstolo mostra que a verdadeira caridade traz a resignação, que é o entendimento das dificuldades da vida como
obstáculos a serem vencidos, objetivando o progresso espiritual. Alia a bondade
para com todos, independente do momento, pois a vingança e o ódio corroem o
sentimento e turbam os sentidos racionais, enquanto o perdão enobrece o
ser.
Diz ainda que a prudência deve fazer
parte de quem busca a caridade, pois ser leviano traz conseqüências inesperadas,
e o orgulho do homem pode contribuir para o afastamento de Deus.
"Não se porta com
indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal. Não
folga com a injustiça, mas folga com a verdade".
Em
um mundo onde o que mais vale é a satisfação pessoal, mesmo em detrimento da
paz alheia, a caridade busca decência e fraternidade. O público precisa ser
levado a refletir sobre de que adianta levarmos vantagem em tudo se alguém
estiver sofrendo com isso?
Com certeza, esta dor do próximo será revertida
em desespero, rancor, violência, que mais cedo ou mais tarde, acabará
voltando-se contra nós mesmos, nossos filhos ou amigos.
Irritar-se é a melhor forma de perdermos a razão, por isso a paciência e a
sensatez fazem parte da caridade, levando o homem a pensar antes de agir.
Assim, devemos lembrar ao assistente que a
justiça irá se fazer mais presente em nossa sociedade, libertando os seres das
mentiras e intrigas que envolvem interesses pessoais. É a verdade prevalecendo
e só ela pode nos libertar da ignorância, disse Jesus.
"Tudo sofre, tudo
crê, tudo espera, tudo suporta".
Tudo
tem sua hora. Saber esperar é próprio da caridade. Quando o ser amplia sua
visão além da vida material, vê no horizonte a luz necessária para manter-se
animado e vivo. Busca na sabedoria cristã
o esclarecimento para suas dúvidas, deixando de lado o desespero. É o caminho
do equilíbrio proporcionado pela caridade.
"Agora, pois,
permanecem a fé, a esperança e a caridade. Mas a maior destas é a
caridade" ( Paulo, I Coríntios, capítulo XIII, vers. 1 ao 13).
Mudança
íntima, humildade, obras, exemplo, doação desinteressada, resignação, bondade,
perdão, prudência, decência, razão, tranqüilidade, sabedoria, justiça, amor ao
próximo como a si mesmo. Agora é o momento de mostrar o que verdadeiramente
Paulo diz sobre o que é a caridade: um conjunto de atributos morais e
intelectuais, que fará do Espírito ser dono de seu próprio destino.
A fé e a esperança, indispensáveis para uma existência sensata e confiante, são
assessoras da caridade, que será o sentimento principal a ser buscado pelo
homem de bem, libertando de seu egoísmo e encaminhando-o para o Reino de Deus.
"Todos os deveres do
homem se encontram resumidos na máxima: Fora da caridade não há salvação (Allan
Kardec, Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XV, item 5).
Diferente
de outras religiões que colocam como essencial para a salvação a freqüência
exclusiva em suas fileiras, a Doutrina Espírita mostra que o que interessa é a
prática da caridade, seja ela feita em que religião for.
Jesus nunca disse que esta ou aquela doutrina
deveria ser seguida. Mas sim, resumiu a Lei e os profetas em: Amar a Deus sobre
tudo e ao próximo como a si mesmo.
"Reconhece-se o
verdadeiro espírita pela sua transformação moral, e pelos esforços que faz para
domar suas más inclinações". (Allan Kardec, Evangelho segundo o
Espiritismo, capítulo XVII, item 4).
O que se espera do verdadeiro espírita, ou
cristão, que têm o mesmo sentido, é o esforço constante em analisar-se
moralmente. E sempre que se perceber fora dos atributos que constituem a
caridade, que erga a cabeça, recomece novamente o caminho, sem desesperos ou
pressa, mas a passos firmes e corajosos.