06 - Visão Espírita da Bíblia


06 - Visão Espírita da Bíblia
José Herculano Pires

11 – Moisés praticava e desejava a Mediunidade bem orientada

As pretensas condenações da Bíblia ao Espiritismo, são condenações das práticas de magia, que os judeus haviam aprendido na Babilônia e no Egito, e que iriam encontrar também em Canaã, pois os cananitas (habitantes da Palestina) como todos os povos antigos, davam-se a essas práticas.

Mas nos mesmos livros da Bíblia, em que aparecem essas condenações, há numerosas ordenações que os mais aferrados seguidores da Bíblia não obedecem. Um pastor nos respondeu, em programa de televisão, que a sua igreja cumpria a "palavra de Deus" pela metade.



O que vale dizer que a palavra de Deus é por ela desrespeitada. Preferimos cumprir a palavra de Deus integralmente, e por isso evitamos confundi-la com as palavras humanas e com a legislação envelhecida de povos antigos.

Conforme prometemos, vamos hoje demonstrar que Moisés, o grande legislador judeu, médium de excepcionais faculdades, não condenou, mas praticou a mediunidade e desejava vê-la praticada pelo seu povo. Quanto à prática da mediunidade por Moisés, não precisamos fazer novas citações.

Ele recebia espíritos, conversava com espíritos, evocava espíritos, e além disso fazia-se acompanhar no deserto por uma equipe de médiuns, provocando até mesmo fenômenos de materialização.

Isso tudo já demonstramos. Mas vamos agora a um episódio que pastores e padres não citam, mas que está na Bíblia, em todas as traduções. O professor Romeu do Amaral Camargo, que foi diácono da l Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo, comenta esse episódio em seu livro espírita "De cá e de Lá".

É o constante do livro de Números, Capitulo 11, versículos 26 a 29. Foi logo após a reunião dos setenta médiuns na tenda, para a manifestação de Jeová. Dois médiuns haviam ficado no campo: Eldad e Medad. E lá mesmo foram tomados e profetizavam, ou seja, davam comunicações de espíritos. Um jovem correu e denunciou o fato a Josué.

Este pediu a Moisés que proibisse as comunicações. A resposta de Moisés é um golpe de morte em todas as pretensas condenações do Espiritismo pela Bíblia. Eis o que diz o grande condutor do povo hebreu: "Que zelos são esses, que mostras por mim? Quem dera que todo o povo profetizasse, e que o Senhor lhe desse o seu espírito"!

Comenta o professor Camargo: "Médium de extraordinárias faculdades, Moisés sabia que Eldad e Medad não eram mercenários nem mistificadores, não procuravam comunicar-se com o mundo invisível, mas eram procurados pêlos espíritos".

Como acabamos de ver, Moisés aprovava a mediunidade pura que o Espiritismo aprova e defende. Mas o pior cego é o que não quer ver, principalmente quando fechar os olhos é conveniente e proveitoso.

12 – Jeová dá Lições sobre formas de Mediunidade

Jeová ou lave, o Deus de Israel, como já vimos anteriormente, era o Espírito Guia do Povo Hebreu. Para os povos antigos, os Espíritos eram Deuses, e o Deus de cada povo era a Divindade Suprema. Esse o motivo por que Jeová se apresentava ao seu povo como se fosse o próprio Deus único.

E como se apresentava ele? Através da mediunidade, ensinando aos homens rudes do tempo as verdades espirituais que deveriam frutificar no futuro. É por isso que encontramos, nas páginas da Bíblia, não só o relato de fenômenos espíritas ocorridos com o povo hebreu, mas também ensinamentos precisos e claros sobre a mediunidade.

Logo após os episódios que comentamos, com fenômenos de materialização e de comunicações, o Livro dos Médiuns fornece-nos outros, em que vemos Jeová ensinar que a mediunidade tem várias formas, como o ensina hoje o Espiritismo.

A Bíblia está cheia desses ensinos, que só não vêem os cegos ou os que não querem ver. Basta o leitor ler a Bíblia, de qualquer tradução, católica ou protestante, no Livro de Números, capítulo XII.

Pode ler todo o capítulo, ou apenas os versículos 5 a 8. Nestes versículos, Jeová dá aos hebreus uma das lições que só muito mais tarde apareceria de novo, mas então no Livro dos Médiuns, de Allan Kardec. Vejamo-la.

Miriam e Aarão falavam mal de Moisés, por haver ele tomado uma nova mulher, de origem cusita (era a mulher negra de Moisés). Ora, Jeová não gostou disso e subitamente "desceu da nuvem", para repreende-los.

Descer da nuvem é materializar-se, pois a nuvem é simplesmente a formação de ectoplasma, como a Bíblia deixa bem claro nos seus relatos.

Imagina-se o Senhor do Universo, o Deus-Pai do Evangelho, fazendo esse papel de alcoviteiro! Seria absurdo tomarmos esse Jeová, sempre imiscuído nos assuntos domésticos, pelo próprio Deus! Como espírito-guia, podemos compreendê-lo. E é como espírito-guia que ele repreende os maldizentes, castiga Miriam, mas antes ensina:

Primeiro, diz ele que pode manifestar-se aos profetas (médiuns) por meio de visão (da vidência) ou de sonhos. Depois, lembrando que Moisés é o seu instrumento para direção do povo, esclareceu:

"Não é assim com o meu servo Moisés, que é fiel em toda a minha casa", acrescenta: "Boca a boca fale com ele, claramente, e não por enigmas".

Cinco formas da mediunidade figuram no ensino bíblico: I) a de vidência; 2) a de desprendimento, ou sonambúlica; 3) a de materialização; 4) a de voz-direta; e 5) a de audiência. O próprio Jeová ensinava a mediunidade, como o apóstolo Paulo, em l Coríntios, ensinaria mais tarde a fazer uma sessão mediúnica.

Harmonia espiritual vai publicar semanalmente os capítulos que compõem esta maravilhosa obra de J. Herculano Pires.