Piedade Filial - Capítulo XIV
Evangelho segundo o Espiritismo
3. O mandamento “Honrai vosso pai e vossa mãe”; é uma conseqüência da lei geral de caridade e de amor ao próximo, porque não se pode amar o próximo sem amar nosso pai e nossa mãe; mas a palavra honrai contém um dever a mais com relação a eles: o da piedade filial.
Com essas palavras Deus quis mostrar que ao amor é preciso juntar o respeito, os cuidados, a submissão e a condescendência, o que resulta na obrigação de se ter para com eles, de uma forma mais rigorosa ainda, o procedimento determinado pela caridade em relação ao próximo.
Esse dever naturalmente se aplica às pessoas que estão no lugar de pai e de mãe, e que tanto mais mérito terão, quanto menos obrigatório for o seu devotamento. Deus pune sempre, de uma forma rigorosa, toda violação desse mandamento.
Honrar pai e mãe não é somente respeitá-los, é também assisti-los nas suas necessidades; é proporcionar-lhes repouso na sua velhice; é cercá-los de solicitude, como eles fizeram conosco em nossa infância.
É principalmente com os pais sem recursos que se mostra a verdadeira piedade filial. Será que cumprem este mandamento aqueles que julgam fazer uma grande coisa, só porque dão aos seus pais o essencial para não morrerem de fome, enquanto que eles mesmos não se privam de nada, colocando-os nos mais ínfimos cômodos da casa.
Apenas para não deixá-los na rua, enquanto reservam para si o que há de melhor e de confortável? Ainda bem quando não o fazem de má-vontade, e obrigam os pais a pagarem o tempo que lhes resta de vida com a responsabilidade de realizarem os trabalhos domésticos!
Então, são os pais velhos e enfraquecidos pela idade que devem servir a filhos jovens e fortes? Será que a mãe lhes vendeu seu leite, quando os amamentava? Contou as noites de vigília, quando eles ficavam doentes? Ou os passos que deu para lhes proporcionar tudo o que necessitavam?
Não, não é apenas o estritamente necessário que os filhos devem proporcionar aos seus pais pobres, devem também, o quanto puderem, dar as pequenas alegrias do supérfluo, as amabilidades, os cuidados carinhosos, que são apenas os juros de tudo quanto receberam, o pagamento de uma dívida sagrada. Essa é a única piedade filial aceita por Deus.
Infeliz, portanto, daquele que esquece o que deve aos que o sustentaram na sua fragilidade, aos que, com a vida material, lhe deram a vida moral, aos que, muitas vezes impuseram a si mesmos duras privações para lhe assegurar o bem-estar.
Pobre do ingrato! Ele será punido com a ingratidão e o abandono; será ferido nas suas mais caras afeições, algumas vezes já na vida presente, mas certamente em uma outra existência, onde passará pelos sofrimentos que houver feito outros passarem.
É verdade que certos pais esquecem dos seus deveres e não são para os filhos o que deveriam ser; no entanto, é a Deus que compete puni-los, e não a seus filhos; porquanto eles mesmos talvez tenham merecido que seus pais fossem assim.
Se a caridade transformou em lei o ato de pagar o mal com o bem, de ser indulgente com as imperfeições alheias, de não maldizer o próximo, de esquecer e perdoar as ofensas, de amar mesmo os inimigos, quanto maior não é a obrigação de assim procederem os filhos em relação aos pais!
Conseqüentemente, todos os filhos devem adotar, como regra
de conduta para com seus pais, os preceitos de Jesus referentes ao próximo, não esquecendo jamais que todo procedimento reprovável em relação ao próximo, torna-se ainda mais reprovável quando se trata dos pais; que a falta cometida no primeiro caso pode tornar-se um crime no segundo, porque, então, à falta de caridade junta-se a ingratidão.