Miramez – Capítulo 82 do livro Médiuns

Kardec é um Prisma

Porque antes de tudo, estou informado haver divisões entre vós
quando vos reunis na igreja; e eu em parte o creio.
(I Coríntios, 11:18)

Somente Deus é a Luz da totalidade da vida. Todos os missionários disseminados no mundo são raios do Entendimento Maior. Mesmo em se falando da Terra, esse átomo em comparação ao infinito, algum dia vai ter um só pastor e um só e um só rebanho.

Todavia, vai demorar. As distonias existentes nos lares, nas igrejas e nas nações mostram que, se ainda não conseguimos harmonizar, a própria casa física, que nos serve de roupagem, como viver em plena coerência com a humanidade?


Desde as cavernas, que se internam na carne Espíritos de elevada hierarquia espiritual, para dar o exemplo, mesmo no silêncio, da bondade, do entendimento e do amor.

São muitos deles que têm estagiado no planeta em todas as épocas, como guias, favoráveis ao bem. São prismas de luz, ligados à Luz Maior.

Allan Kardec foi um desses prismas das claridades superiores, que teve a missão de educar e instruir. Sua inteligência foi capaz de sentir as necessidades dos sentimentos, e partir para um interesse coletivo.


Teve a felicidade de entender com dignidade a tarefa que lhe foi entregue por Jesus, e reconheceu o Mestre, como Paulo no caminho de Damasco.

Kardec ainda é pouco estudado, e os que o estudam, pouco compreende a profundidade da sua obra, que se imortalizou pela aliança que fez com seus preceitos do Cristo.

O médium, ou espírita, que se ilude, achando-se de posse de toda a verdade, embriaga-se no vinho do fanatismo e prolonga uma fé sem raciocínio, não sabendo ou não querendo saber que Deus é unidade, porém se divide, por sabedoria, em todos os rumos, para viver na unidade. As religiões existentes são prova disso.

Cada ideação religiosa ou filosófica congrega um rebanho humano que se alimenta espiritualmente na mesma faixa evolutiva. As diversidades de naturezas nos fazem crer nas roupagens vestidas pela verdade, para servir a todos.

Se o sol visitasse a Terra, reunindo todos os seus raios em um somente, destruiria a vida humana.

Por isso, divide-se em prismas incontáveis. Pois a verdade é um sol do Espírito. Se chegar à consciência humana e forçá-la com toda a pujança, perturbalá-a. E é pelo amor que a verdade se divide, para que possamos viver na plenitude da paz.

Falar que Kardec é um prisma da luz divina não é desmerecê-lo, é honrá-lo, é respeitá-lo. Não podemos nos esquecer também tantos outros que visitaram a Terra com missões idênticas, e que conseguiram realizar muito em fazer da Humanidade.

Introvertamos, pois, idéias universais para o nosso campo mental, que as mãos de Deus acionarão o tempo com o nosso esforço, nas sutilezas da prece. A fermentação no laboratório da consciência é que nos dirá, na maior profundidade, que a verdade não pertence a ninguém.

O fundamento de todas as religiões é um só: melhorar o homem, enriquecendo todos os seus sentimentos, para que eles transmutem em uma só luz: amor.

Entretanto, para que as almas cheguem a esse estágio, haverão de existir divisões. A medicina, o direito, a filosofia, tomaram rumos entre si para melhor compreenderem os seus próprios destinos, objetivando o mesmo ideal: a grandeza da vida.

Também as religiões tomaram caminhos opostos na maneira de compreender. Igualmente entre cada uma há divisões, pois elas são aberturas de conhecimentos da natureza divina, das leis universais sintetizadas no Evangelho.

O médium espírita que não conhece Allan Kardec está sujeito a entrar entre dois paralelos de opressão: o comércio dos seus dons e a falta de sensibilidade diante do sofrimento alheio.

Quanto às dissensões, isso sempre existiu, desde as primeiras claridades do Cristianismo. Mas onde quer que estejamos nunca nos esqueceremos de servir como médium da caridade.

Porque antes de tudo,
estou informado haver divisões entre vós
quando vos reunis na igreja; e eu em parte o creio.