O que leva o incrédulo a não aceitar as verdades espirituais?
O que o faz manter-se impermeável a certas doutrinas
espiritualistas? – Por Cláudio Bueno da Silva
De onde
vem a dificuldade para aceitar a doutrina espírita, por exemplo, já que os princípios
universais que esta declara existem desde sempre; não foram conjecturados para
formar mais uma filosofia, dentre tantas, mas consolidar idéias e práticas aceitas
milenarmente em muitos lugares e por várias civilizações.
Uma
pessoa do meu convívio, que não chega a ser ateia, mas reluta sistematicamente
em concordar com os argumentos espíritas, me disse que entende Deus como uma grande
incógnita, um profundo mistério, acima das nossas pobres cogitações humanas, por isso não
cuida Dele.
Em casos
como este é inútil se pensar no argumento de Tomé: “É preciso ver para
crer”, pois “ver”, para a maioria dos incrédulos, não muda suas concepções. Também não é possível
se dizer o que Deus deve fazer para superar a sua incredulidade, pois Deus não se
submete a quaisquer exigências ou imposições. Apenas “ouve com bondade os que o procuram
humildemente, e não os que se julgam mais do que Ele”.
A
compreensão das questões transcendentais que envolvem o problema de Deus, do
ser e das leis divinas, parece não depender só da inteligência, pois muitas pessoas
preparadas intelectualmente costumam rejeitar as respostas obtidas com a ajuda
do conhecimento espiritual.
Allan
Kardec afirma que essa compreensão é bastante facilitada e mais completa com o
desenvolvimento do senso moral no indivíduo, o que lhe permite entender, sem esforço, a
preponderância do elemento espiritual e suas leis específicas sobre o elemento
material, que lhe é subalterno e coadjuvante.
Sobre a
questão de muitas pessoas terem dificuldade em aceitar as verdades espirituais,
assimiladas tão naturalmente por tantas outras, há no livro “O Evangelho segundo o
Espiritismo” um comentário de Kardec esclarecendo um texto do evangelista
Mateus (XI: 25): Mistérios ocultos aos sábios e prudentes.
Nele, o
codificador afirma que Deus jamais oculta a luz da verdade a nenhuma criatura, ao contrário, a
espalha prodigamente por toda a face da Terra. Explica que a inteligência no
mundo, quase sempre, está associada ao orgulho e à vaidade que, normalmente,
levam o homem a supor-se auto-suficiente, satisfeito em buscar os segredos da
Terra, que para ele bastam, pondo assim, uma venda nos próprios olhos.
Enquanto
os
vícios morais impedem o orgulhoso de “ver”, o simples e humilde pode, com as
virtudes conquistadas, desvendar os segredos do Céu. Portanto, são dois
sentimentos antagônicos — orgulho e humildade — que situam os seres em níveis
diferentes de compreensão, e que os colocam mais ou menos próximos do ideal de
verdade, proposto por Jesus de Nazaré e ratificado pelo Espiritismo.
Os que já detêm a sabedoria
do Céu continuarão se aprimorando, com a amplitude de vistas que esse
conhecimento lhes faculta. Os que se contentam com as razões do mundo
precisarão amadurecer para compreender, e preparar o coração para sentir.
Deus, que não quer abrir os
seus olhos à força, os aguardará, enquanto lutam contra o próprio orgulho, até
que passem a reconhecer Nele a mão que os governa.