Nas Fronteiras da Loucura – 9 Parte

Nas Fronteiras da Loucura
Manoel P. de Miranda - Divaldo Pereira Franco
Centro Espírita Nosso Lar – Grupo de Estudos das obras
de André Luiz e de Manoel Philomeno de Miranda.

36. O caso Ermance

A jovem chamava-se Ermance. Em vida pregressa suicidara-se, atirando contra o próprio peito. Os tecidos sutis do perispírito, lesados pela violência, impuseram-lhe então a modelagem de uma bomba cardíaca deficiente. De organização física frágil, era, aos dezoito anos, portadora de uma beleza lirial e enternecedora.

Educada em rígidos princípios religiosos, soubera manter-se com dignidade, re­sidindo em zona suburbana próxima da cidade. Atendendo a insistentes convites de amigos, veio observar o Carnaval e passear, sem dar-se conta dos perigos a que se expunha. O seu grupo, jovial e comunica­tivo, não passou despercebido de rapazes de conduta viciosa, que lograram imiscuir-se e participar do programa inocente que movimentava.

Ermance não teria uma existência longa, em razão do suicídio anterior, quando subtraíra vários anos ao próprio corpo; poderia, contudo, lo­grar alguma moratória, caso estivesse engajada em atividade de elevado teor que a necessitasse por mais tempo. Iludida por hábil sedutor, que a convidou a descansar em casa de pessoa amiga, próxima da Ave­nida, só quando penetrou a casa Ermance deu-se conta da cilada em que caíra.

O medo aterrou-a; a respiração fez-se lhe difícil e a alta carga de tensão produziu-lhe um choque fatal. O criminoso a conduzira a um bordel e, ante a sua reação, aplicou-lhe um lenço umedecido com clorofórmio, cuja dose forte produziu-lhe uma parada cardíaca. No de­sespero em que se debatera, Ermance lembrou-se dos pais, de sua que­rida avó e da mãe de Jesus, a quem muito amava. Seu apelo de imediato encontrou ressonância.
Sua avó Melide, que já a acompanhava, antevendo os acontecimentos, deu-lhe assistência e, no momento azado, rogou so­corro dos Benfeitores Espirituais, que auxiliaram a liberação de Espí­rito da neta, logo que cessou a vida física.
(Cap. 8, pp. 67 e 68)

37. A cirurgia

Dr. Bezerra silenciou por alguns momentos e co­mentou: Pode-se imaginar a angústia dos amigos, que não a levarão de volta ao lar, dos pais e irmãos, a esta altura e no dia seguinte, até que a polícia localize o corpo, prosseguindo o desespero, dia após dia.

O insucesso amargo, porém, sendo bem suportado, será  convertido pelas Leis Divinas em futura paz e renovação da família, que reencon­trará nossa Ermance, mais tarde, em situação feliz. O grande choque, fator da desencarnação, num atentado ao seu pudor de moça‚ o capítulo final da tragédia afetiva, culminada, antes, no suicídio.

Pena a inge­rência indébita dos criminosos, de que a Vida  não necessitava! Dr. Bezerra afirmou então que tudo, em nossa vida, transcorre sob controle superior, obedecendo ao equilíbrio universal, de que somente se tem uma visão mais clara e mais completa deste para o plano terreno. Con­cluída a terapia, a avó de Ermance, irmã Melide, seria destacada para acompanhar a família e sustentá-la, enquanto Ermance ficaria ali em repouso para oportuna transferência e posterior despertamento.

Na seqüência, Dr. Bezerra deu início à cirurgia, na parte superior do cére­bro, na região do centro de força coronário, deslindando tenuíssimos filamentos escuros e retirando-os, ao tempo em que, valendo-se de um aspirador de pequeno porte, fazia sugar resíduos do centro cerebral, que haviam bloqueado a  área da consciência. À medida que a equipe recorria a instrumentos muito delicados para aquela microcirurgia, a cor retornou à face da jovem e a respiração foi, a pouco e pouco, sendo percebida, em face dos estímulos aplicados na área cardíaca.

Mais ou menos vinte mi­nutos depois, a paciente, em sono reparador, foi conduzida para enfer­maria contígua, enquanto o dedicado médico comentou: Morrer é fácil. Liberar-se da morte, após ela, é que se faz difícil. Encerrando-se um capítulo da vida, outro se inicia em plenitude de forças. Acabar, jamais! (Cap. 8, p. 68 e 69)

38. O problema das drogas

Para aquela madrugada estava progra­mada, num dos módulos do Posto Central, uma palestra em que Dr. Bezer­ra de Menezes iria abordar o problema das drogas, que afeta a economia social e moral da comunidade brasileira, numa expansão surpreendente entre os jovens.

A palestra se destinava a trabalhadores desencarna­dos, em fase de adestramento para socorro às vítimas da toxicomania, e a estudiosos do comportamento, ainda encarnados, que se interessavam pelo magno assunto. O espaço comportava cinqüenta pessoas. Philomeno identificou ali alguns espiritistas que se dedicavam à prática psi­quiátrica e à terapia psicológica, pregadores e médiuns, assim como terapeutas não vinculados ao Espiritismo, sociólogos e religiosos em número não superior a vinte. Os demais eram desencarnados.

A reunião foi iniciada exatamente às 3h e, tão logo foi proferida a prece, sem qualquer delonga ou inútil apresentação laudatória, Dr. Bezerra levan­tou-se e deu início à sua mensagem, saudando os presentes como os cristãos primitivos o faziam: Paz seja convosco! Em seguida, ferindo diretamente o tema da palestra, o Benfeitor asseverou: As causas bá­sicas das evasões humanas à responsabilidade jazem nos conflitos espi­rituais do ser, que ainda transita pelas expressões do primarismo da razão.

Espiritualmente atrasado, sem as fixações dos valores morais que dão resistência para a luta, o homem moderno, que conquistou a lua e avança no estudo das origens do Sistema Solar que lhe serve de berço, incursionando pelos outros planetas, não conseguiu conquistar-se a si mesmo. Logrou expressivas vitórias, sem alcançar a paz íntima, padecendo os efeitos dos tentames tecnológicos sem os correspondentes valores de suporte moral.

Cresceu na horizontal da inteligência sem desenvolver a vertical do sentimento elevado. Como efeito, não re­siste às pressões, desequilibra-se com facilidade e foge, na busca de alcoólicos, de tabacos, de drogas alucinógenas de natureza tóxica. Atado à retaguarda donde procede, mantém-se psiquicamente em sintonia com os sítios, nem sempre felizes, onde estagiou no Além Túmulo, antes de ser recambiado à reencarnação compulsória." (Cap. 9, pp. 70 a 72)

39. A gênese da questão

Dr. Bezerra explicou que, em face da ne­cessidade de se promover o progresso moral do planeta, milhões de Es­píritos foram transferidos das regiões punitivas onde se demoravam, para a inadiável investidura carnal, por cujo recurso podem recompor-se e mudar a paisagem mental, aprendendo, na convivência social, os processos que os promovam a situações menos torpes.

Revelou, no en­tanto, que dependências viciosas decorrentes da situação em que viviam dão-lhes a estereotipia que assumem, tombando nas urdiduras da toxico­mania. O uso de drogas é muito antigo; o que mudou ao longo dos sécu­los foram as justificativas para seu uso. No mundo ocidental o seu uso, hoje, é quase generalizado, ora para fins terapêuticos, sob con­trole competente, ora para misteres injustificáveis sob direção dos manipuladores mafiosos da conduta das massas.

Em razão da franquia de informações que a todos alcançam, encontrem-se preparados ou não, os meios de comunicação, afirmou Dr. Bezerra, têm estereotipado as linhas da conduta moral e social de que todos tomam conhecimento e se­guem com precipitação. Disse então que o consumo de drogas no Oci­dente expandiu-se especialmente após a Segunda Guerra Mundial e os la­mentáveis conflitos no sudeste asiático, tomando conta, particular­mente, da juventude imatura.

O desprezo pela vida, a busca do aniqui­lamento resultantes de filosofias apressadas, sem estruturação lógica nem ética, respondem pelo progressivo consumo de tóxicos de toda natureza. Os valores ético-morais que devem sustentar a sociedade vêm so­frendo aguerrido combate e desestruturando-se sob os camartelos do ci­nismo que gera a violência e conduz à corrupção, minimizando o signi­ficado dos ideais da beleza, das artes, e ciências. Vive-se apres­sadamente e rapidamente deseja-se a consunção. A incompreensão grassa dominadora, sem que os homens encontrem um denominador comum para o entendimento que deve vigerá entre todos. O egoísmo responde pelo in­conformismo e pela prepotência, pela volúpia dos sentidos e pela indi­ferença em relação ao próximo.

O homem sofre perplexidades que o ate­morizam, desconfiando de tudo e de todos, entregando-se a excessos, fugindo à responsabilidade através das drogas, num momento em que lhe faltam lideranças nobres, inteligências voltadas para o bem geral, que se façam exemplos dignos de serem seguidos.
(Cap. 9, pp. 72 e 73)

40. Terapia para o problema das drogas

Prosseguindo, Dr. Bezerra lembrou que vivemos dias de luta, em que as contestações, mais pertur­badoras que saneadoras, tomam o lugar do trabalho edificante. Contestam-se os valores da anterior para a atual geração, o trabalho, a ética, a vida exigindo elevadas doses de tolerância e compreensão, a fim de se evitarem radicalismos de parte a parte, disse o pales­trante, advertindo em seguida que o progresso tecnológico torna-se, de certo modo, uma ameaça, um monstro devorador, se não for moderado nos seus limites e no tempo próprio.

A automação substitui o homem em mui­tos misteres e a ociosidade, o desemprego neurotizam os que param e atormentam os que se esforçam no trabalho. Os homens separam-se, dis­tanciados pela luta que empreendem, e unem-se pelas necessidades dos jogos dos prazeres. Ora, nesse dualismo comportamental a carência afetiva, a solidão instalam seus arsenais de medo, de revolta e dor, propelindo para a fuga, para as drogas. Em realidade, asseverou Dr. Bezerra, foge-se de um estado ou situação, inconscientemente bus­cando algo, alguma coisa, segurança, apoio, amizade que os tóxicos não podem dar.

É preciso, pois, valorizar-se o homem, arrancando dele valores que lhe jazem latentes, manifestação de Deus que ele não tem sabido compreender, nem buscar. Muita falta faz a presença da vida sadia, conforme a moral do Cristo, advertiu o Apóstolo da Caridade, que propôs então como terapia para o grave problema das drogas: ini­cialmente, apresentamos a educação em liberdade com responsabilidade; a valorização do trabalho como método digno de afirmação da criatura; orientação moral segura, no lar e na escola, mediante exemplos dos educadores e pais; a necessidade de viver-se com comedimento, ensinando-se que ninguém se encontra em plenitude e demonstrando essa ver­dade através dos fatos de todos os dias, com que se evitarão sonhos e curiosidades, luxo e anseio de dissipações por parte de crianças e jo­vens; orientação adequada às personalidades psicopatas desde cedo; am­bientes sadios e leituras de conteúdo edificante, considerando-se que nem toda a humanidade pode ser enquadrada na literatura sórdida da “contra cultura”, dos livros de apelação e escritos com fins mercená­rios, em razão das altas doses de extravagância e vulgaridade de que se fazem portadores.
(Cap. 9, pp. 74 e 75)

“A publicação do estudo continuará
nas próximas semanas”