Nas Fronteiras da Loucura
Manoel P. de Miranda - Divaldo Pereira Franco
Centro Espírita Nosso Lar – Grupo de Estudos das obras
de André Luiz e de Manoel Philomeno de Miranda.
40. Os recursos psicoterápicos espíritas
Dito
isto, Dr. Bezerra acrescentou: A estas terapias basilares adir o exercício da disciplina dos
hábitos, melhor entrosamento entre pais e mestres, maior convivência destes com
filhos e alunos, despertamento e cultivo de ideais entre os jovens. E conhecimento
espiritual da vida, demonstrando a anterioridade da alma ao corpo e a sua
sobrevivência após a destruição deste.
Quanto mais
for
materialista a comunidade, ponderou o palestrante, mais se apresenta
consumida,
desequilibrada e seus membros consumidores de droga e sexo em desalinho,
sofrendo mais altas cargas de violência, de agressividade, que conduzem aos
elevados índices de homicídio, de suicídio e de corrupção.
Concluindo
sua explanação, o Nobre Mentor foi incisivo: O Espiritismo possui recursos
psicoterápicos valiosos como profilaxia e tratamento no uso de drogas e de
outras viciações. Estruturada a sua filosofia na realidade do Espírito, a
educação tem primazia em todos os tentames e as técnicas do conhecimento das
causas da vida oferecem resistência e dão força para uma conduta sadia.
Além
disso, as informações sobre os valiosos bens mediúnicos aplicáveis ao
comportamento constituem terapêutica de fácil destinação e resultado positivo. Aqui nos referimos à
oração, ao passe, à magnetização da água, à doutrinação do indivíduo, à
desobsessão É que nas panorâmicas da toxicomania, da sexolatria e dos vícios
em geral, defrontamos, invariavelmente, a sutil presença de obsessões, como causa remota ou
como efeito do comportamento que o homem se permite, sintonizando com mentes
irresponsáveis e enfermas desembaraçadas do corpo.
Faz-se
preciso, pois, que em todo cometimento de socorro a dependentes de vícios nos
recordemos do respeito que devemos a esses enfermos, atendendo-os com
carinho e dignificando-os, instando com eles pela recuperação, ao tempo em que
lhes apliquemos os recursos espíritas e evangélicos, na certeza de resultados
finais salutares. (Cap. 9, pp. 75 e 76)
41. Um acidente fatal
A
movimentação prosseguia mais intensa nas atividades do Posto Central, à medida
que a madrugada avançava. Os desfiles das Escolas de Samba continuavam pelo
amanhecer e
os foliões permaneciam excitados, quando dolorosa ocorrência reclamou a atenção
do Dr. Bezerra de Menezes.
Cinco
jovens que
pareciam embriagados trafegavam com velocidade, quando outro veículo fez uma
ultrapassagem rápida. De repente, este freou violentamente em razão de um
obstáculo na pista. Colhido pelo imprevisto, o jovem que guiava o outro carro
tentou desviar-se, subindo ao passeio e chocando-se contra a balaustrada.
O golpe
muito forte rompeu a proteção, indo o carro cair nas águas lodosas do mangue,
perecendo todos os seus ocupantes. Nas imediações do local, Dr. Bezerra foi
saudado por veneranda mulher, desencarnada, que lhe relatou, comovida: A par da compaixão
que me inspiram os jovens, ora tombados neste trágico insucesso, por
imprevidência, sofro o drama que ora se inicia com o meu neto, rapazote de 17
anos, cujo corpo jaz no fundo do pântano entre os ferros retorcidos do veículo
destroçado.
Ela
contou então que, como se encontrava em serviço em local próximo, sentira a mente do
netinho tresvariando no excesso das alegrias dissolventes. Fui atraída, disse a
avó, pelo impositivo dos vínculos que nos mantêm unidos, minutos antes, e
percebi o que sucederia. Tentei induzi-lo a interferir com o amigo para que
diminuísse a velocidade e não consegui.
Inspirei-o
a que mandasse parar, sob a justificativa de alguma razão, porque estivesse
indisposto, e não logrei resultado. A sua mente parecia entorpecida, não me
registrando o pensamento. Acompanhei a tragédia, sem nada poder fazer.
Dito
isto, a
Entidade manifestou seu receio de que os rapazes mortos viessem a cair nas mãos
de irmãos infelizes, vampirizadores das últimas energias orgânicas, postados nas proximidades, que se preparavam
para o assalto, mas o Mentor tranqüilizou-a com breves apontamentos. (Cap. 10,
pp. 77 e 78)
Os
agressores formavam
uma horda ruidosa e expressiva e, logo que viram Dr. Bezerra e seus amigos, começaram os
doestos e as imprecações sem sentido. Chegaram os salvadores! baldoou um deles, de fácies patibular. Vêm
em nome do Crucificado, que a si mesmo, sequer, não se salvou.
Um coro
de blasfêmias estrugiu no ar. Punhos se levantaram cerrados e as agressões verbais
sucederam-se, ameaçadoras. Formemos uma muralha em torno deles, rosnou ímpio verdugo que se
aproximou denotando suas intenções maléficas e impeçamos que se intrometam em
nossos direitos.
Esmaguemos
os impostores, não convidados. Dr. Bezerra mantinha-se em oração, tendo ao lado
apenas três servidores do Bem, e, subitamente, se transfigurou. Uma luz irradiante
dele se exteriorizou, débil a princípio, forte a seguir, envolvendo os quatro
amigos, enquanto começaram a cair leves flocos de substância delicadíssima,
igualmente luminosa, que parecia provocar choques na malta irreverente, graças às
desencontradas reações que eclodiam.
Alguns
se afastaram, assustados. Outros caíram de joelhos e, de mãos postas, julgando
estar diante de anjos, rogaram socorro e proteção. Os mais pertinazes
malfeitores teimavam, porém, em permanecer, afirmando que os desgraçados que
haviam acabado de morrer lhes pertenciam e dali não arredariam pé.
Um
clarão mais forte fez-se, então, de inopino, atemorizando a turba furibunda, que se dispersou
em verdadeira alucinação. Rapidamente diluiu-se a treva densa e desapareceram os comensais
da maldade, vítimas de si mesmos, ficando o ambiente respirável.
As
impressões fortes da cena permaneciam, porém, na mente de Philomeno: aqueles Espíritos
apresentavam-se animalescos, lupinos e simiescos, enquanto os que
preservavam as formas humanas estavam andrajosos e sujos, formando um quadro
dantesco, realmente apavorante. Aqueles seres vitalizados pelas emanações
humanas no desenfreio da orgia pareceram-lhe mais horripilantes e temerosos do que os
que ele já vira nas regiões inferiores.
Dr.
Bezerra pediu-lhe então não estranhasse sua aparente indiferença em relação
à dor dos que ali suplicaram socorro. O apelo de ajuda resulta-lhes, no momento, do
medo e não de um sincero desejo de renovação. Todos respiramos, asseverou o Mentor, o
clima dos interesses que sustentamos. Logo os necessitados se voltem na direção
da misericórdia, a terão. (Cap. 10, pp. 78 a 80)
43. O atendimento
A prece
do Dr. Bezerra atraíra vários cooperadores, inclusive do Posto Central, que
captara a oração superior. Eram Espíritos adestrados em diversos tipos de
salvamento, inclusive naquele gênero de acidentes. Os enviados do Posto
haviam-se munido de uma rede especial. Os Benfeitores desceram ao fundo do
mangue repleto de resíduos negros, densamente pastosos, onde jaziam os corpos
dos cinco rapazes.
Quatro
cooperadores distenderam a rede, que se fez luminosa à medida que descia
suavemente, sobre os despojos, superando a escuridão compacta. Alguns corpos estavam
lacerados, com fraturas internas e externas, estampando no rosto as marcas dos
últimos momentos físicos. Fortemente imantados aos corpos, os Espíritos lutavam, em
desespero frenético, em tentativas inúteis de sobrevivência.
Morriam
e ressuscitavam, morrendo em contínuos estertores. Se gritavam por socorro, experimentavam
a água pútrida dominar-lhes as vias respiratórias, desmaiando, em angústias
lancinantes. Os lidadores destrinçaram os laços mais vigorosos e colocaram os
Espíritos na rede protetora, que foi erguida à superfície do mangue, sendo dali transferidos
para padiolas. A equipe de salvamento prosseguiu liberando os condutos que
mantinham os corpos vivos sob a energia vital do Espírito.
Interrompida
a comunicação física, permaneciam poderosos liames que se desfariam somente à
medida que se iniciasse o processo de decomposição cadavérica, em tempo nunca
inferior a cinqüenta horas, e, considerando-se as circunstâncias em que se dera
a desencarnação, no caso, muito violenta, em período bem mais largo. Na
verdade, não há mortes iguais.
A
desencarnação varia de pessoa a outra, dependendo de suas condições morais. Morrer nem sempre
significa libertar-se. A morte é orgânica, mas a libertação é de natureza espiritual. É por isso que a
turbação espiritual pode demorar breves minutos, nos Espíritos nobres, e até
séculos, nos mais embrutecidos.
Nas
desencarnações violentas, o período e intensidade de desajuste espiritual
correspondem à responsabilidade que envolveu o processo fatal. O mesmo sucede nos
casos de homicídio, em que a culpa ou não de quem tomba responde pelos efeitos.
Já
os suicidas, pela gravidade do gesto de rebeldia contra os divinos códigos, carpem, sofrem por
anos a fio a desdita, enfrentando em estado lastimável e complicado o problema
de que pretendem fugir.
A
operação de desintegração dos laços fluídicos com os despojos físicos dos cinco
rapazes demorou meia hora, aproximadamente. A polícia só chegou ao local quando o grupo
socorrista partiu, enquanto o desfile das Escolas prosseguia, interminável.
(Cap. 10, pp. 81 a
83)
44. Treinamento para a morte
Os cinco
jovens foram colocados em recinto especial para o atendimento sonoterápico por
algumas horas, cujo objetivo era conceder-lhes a oportunidade do repouso, o que
dificilmente se consegue, devido aos apelos exagerados dos familiares. A lamentação e os
impropérios por parte destes produzem, no Espírito recém-liberto, grande
desconforto, porque tais atitudes transformam-se em chuvas de fagulhas
comburentes que os atingem, ferindo-os ou dando-lhes a sensação de ácidos
que os corroem por dentro.
Nominalmente
chamados, eles desejam atender, mas não podem, experimentando então dores que os
vergastam, adicionadas pelos desesperos morais que os dominam. Se conseguem
adormecer, não raro debatem-se em pesadelos afligentes, que são a liberação
de imagens perturbadoras das zonas profundas do inconsciente.
Como uma
reencarnação exige anos para completar-se, é natural que a desencarnação
necessite de tempo suficiente para que o Espírito se desimpregne dos fluidos
mais grosseiros em que esteve mergulhado. A morte violenta mata apenas os despojos
físicos, mas não significa libertação do ser espiritual.
As
enfermidades de longo curso, quando suportadas com resignação, liberam o Espírito da
matéria,
porque ele, nesses casos, tem tempo de pensar nas verdadeiras realidades da
vida e desapegar-se de pessoas, paixões e coisas, movimentando o pensamento em
círculos superiores de aspirações. Lembra então os que já partiram e a eles se
re-vincula pelos fios das lembranças, recebendo inspiração e ajuda para o
desprendimento.
As
dores morais bem aceitas facultam aspirações e anseios de paz noutras
dimensões,
diluindo as forças constritoras que o atam ao mundo das formas. O conhecimento
dos objetivos da reencarnação e o comportamento correto diante da vida
contribuem, também, para a desimantação.
O tempo
no corpo tem
finalidade educativa, expurgadora de mazelas, para o aprimoramento de ideais, ao invés de
constituir uma viagem ao país do sonho, com o prazer e a inutilidade de mãos
dadas. Como ninguém investido na carne passa indene, sem despojar-se
dela, é
justo o treinamento para enfrentar o instante da morte que vira , porque o
Espírito é, no Além, o somatório das suas experiências vividas. (Cap. 11, pp.
84 e 85
“A publicação do estudo continuará
nas próximas semanas”