Entenda a jornada evolutiva do Princípio
Inteligente, centelha divina eterna e imortal,
em busca de sua realidade transcendental
Por Dr. Jorge Andrea
O processo evolutivo ainda é tema de discussões, em muitos aspectos. Tudo isso, pela dificuldade de explicar, no exclusivo parâmetro material, muitos de seus porquês.
Incluir o espírito no cerne da dinâmica evolutiva, diante de certos fatos e apreciações científicas bem avaliadas, é como decifrar e traduzir muitos dos problemas, até bem pouco obscuros e tidos como de difícil solução.
Quem moreja no terreno evolutivo tem por obrigação conhecer a existência de dois mecanismos básicos: o impulso interno, desenvolvido na intimidade do fenômeno e os fatores externos, constituídos pelas condições que o meio oferece.
O impulso interno, apreciado por estudiosos como T. Cardin, Claude Bernard e outros, conduz o mecanismo evolutivo no sentido de alcançar uma determinada meta, enquanto que os fatores externos ambientais propiciam e ajudam nas reações que as experiências de todos os matizes podem oferecer.
Assim, as experiências do meio podem ser colhidas pelos seres diante da luta pela existência com sobrevivência dos mais aptos, pelo isolamento geográfico com migrações, permitindo as mutações; pelas variações dos seres observados em estado doméstico e na natureza; pelo uso e desuso dos órgãos; pelo hibridismo e mesmo pelas afinidades mútuas entre os seres.
Tudo isso, bem pesquisado por Lamark, Darwin, Saint Hilaire, Haeckel e muitos outros campeões da filogênese.
As condições externas muito colaboraram no aperfeiçoamento das formas e suas respectivas qualidades, que só poderão existir e ter uma continuidade, como que seguindo uma rota, se houver o orientador do processo, a fim de evitar dispersões e indevidas multiplicações.
Esse orientador seria, sem sombra de dúvida, a energia espiritual, também em elaboração evolutiva pelas constantes trocas com os fatores externos que o meio possibilita e, de certa maneira, impõe.
Desse modo, poderemos dizer que a evolução seria o resultado do entrechoque biológico entre o meio interno (fator espiritual) e o meio externo (fatores de ordem material), propiciando a aquisição de novas formas de consciência.
Muito significativa é a resposta que os imortais deram a Kardec, na pergunta 540 de “O livro dos espíritos”, cujas as palavras finais assim se expressam: “É assim que tudo serve, tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo até o arcanjo, pois ele mesmo começou pelo átomo”.
Admirável lei de harmonia, de que vosso Espírito limitado ainda não pode abranger o conjunto. (Herculano Pires, editora Calvário, 1968).
O Princípio Inteligente
O processo evolutivo representaria a ascensão do Princípio Inteligente em busca de psiquismo sempre mais avançado que, em nosso meio, poderá representar a super-consciência humana, isto é, uma consciência bem caldeada, maturada e sedimentada nas razões do intelecto, a fim de alcançar os fatores mais expressivos da intuição.
Para que tudo isso possa representar uma conquista, o Princípio Inteligente (criação divina), em nosso planeta, necessitaria trafegar pelos reinos da natureza, com finalidade de construir seus lastros experienciais.
Não pode deixar de existir uma grande elaboração desse Princípio, que carrega consigo o grande impulso da própria vida.
No Reino Mineral, o Princípio Inteligente mostraria o seu existir nas ordenadas forças de atração e coesão (atributos desta fase) que os minerais apresentam através dos equilibrados sistemas cristalográficos.
Tudo denotando ordem e direcionamento às expensas de um elemento interno, íntimo, que se lastreará com os atritos múltiplos que os fatores do meio oferecem.
Esse Princípio, denominado de Inteligente, consigo carregará, com seus automatismos, os impulsos sustentados por uma Grande Lei que poderíamos, numa posição metafísica, denominá-la de ressonância divina (imanência divina).
O Princípio da Vida, após milhões de anos de maturação em experiências nas famílias do Reino Mineral, irá avançar e despertar no Reino Vegetal, granjeando novas possibilidades além da simples afinidade (forças de atração e coesão) da fase anterior.
Essas novas possibilidades podem ser traduzidas como a energética, que já possui reações aos estímulos, refletidos no início da sensibilidade, com os parâmetros que o Reino Vegetal oferece.
Com o desfilar dos milênios, por aquisições que se perdem na noite dos tempos, o Princípio Inteligente, já possuindo os atributos das fases anteriores (afinidade e sensibilidade), despertará no Reino Animal, adquirindo maiores possibilidades pela locomoção dos seres e com a característica de aquisição de uma nova condição: o instinto.
O trajeto percorrido por toda a escala zoológica fará do Princípio Inteligente um campo energético de imensa elaboração, sempre em busca de novos parâmetros, porquanto o impulso evolutivo será sempre constante.
As aquisições dessa fase representariam um dos grandes movimentos desenvolvidos pelo mecanismo evolutivo, em virtude da preparação e entrada do Princípio Inteligente no Reino Hominal, refletindo um poderoso e novo fator na gleba espiritual – a conscientização.
É claro que esta irá, aos poucos, aparecendo por maturação da fase anterior, onde inúmeros subfatores vão se mostrando, quais sejam o raciocínio e a intelecção ainda fragmentárias dos animais.
A seguir, a evolução propiciará a formação de um psiquismo contínuo, destacando-se o novo atributo desta fase – a razão.
A razão, como atributo da fase hominal, de acréscimo, abrigará em seus campos e estrutura afetiva a responsabilidade.
Na fase hominal, já existirá a individualidade do Princípio Inteligente, porquanto o espírito já se vinha mostrando na fase anterior, em muitos desses animais e, como tal, não mais sendo um campo energético globalizado das espécies inferiores (alma-grupo das espécies), como se observa em certas sociedades (abelhas, formigas).
Assim, avança o espírito, na fase humana, mostrando os seus diversos degraus evolutivos, conforme observamos nas categorias dos infranormais, dos normais e dos supranormais.
O processo espiritual será sempre de aquisições, cada vez mais acentuadas no setor de intelecção e que, por imensas vivências e maturações, irá alcançando a fase dos supranormais, onde estruturas funcionais do psiquismo deslizam nos campos da intuição como degrau mais avançado.
O Pensamento Filosófico
Á medida que o Princípio Inteligente percorre os campos da vida, se vai desligando das leis determinísticas, das ações-reações, a fim de alcançar os valores maiores do livre arbítrio.
Este, estará sempre relacionado com a evolução de cada ser. Quanto mais evoluído o espírito, maior a liberdade da Grande Lei a refletir-se em responsabilidade; quanto menos evoluído, mais submetido ao determinismo em reações perfeitas de equilíbrio, onde jamais existirá privilégios no “concerto universal”.
Ao lado de tudo isso, devemos considerar, no Reino Hominal, a evolução de seu pensamento filosófico, marcando posição na Índia e na China milenar.
Posteriormente, arregimenta-se nos pensamentos gregos, com Pitágoras, Sócrates, Platão, Aristóteles e muitos outros que, por sua vez, forneceram os alicerces do pensamento ocidental.
Apesar dos percalços posteriores nas idéias básicas do Cristianismo, inclusive pela noite psíquica da Idade Média, a Renascença desponta com as idéias de Descartes, seguindo-se Spinoza, Liebniz e, no desfilar dos anos, com os pensamentos de J.J. Rousseau, I. Kant e outros.
Com esse acervo filosófico, a Ciência desperta, com mais vigor, no século XIX, onde nomes como Lamarck, Kardec e Darwin pontificaram posições ajustadas e equilibradas.
O século XX vem completar os pensamentos filosóficos mais expressivos, onde muitos deles vão sendo inseridos em hipóteses e leis dentro da própria Ciência, dando nascimento à Psicologia, a ciência da alma ou do espírito.
Outros elementos concorrem bastante na afirmação do movimento e impulso evolutivo, sempre em constante avanço. Propiciaram para tal avanço:
a) O processo reencarnatório, como mola mestra das aquisições qualitativas e burilamento de toda ordem, diante das ações-reações da Grande lei Palingenética;
b) O intercâmbio mediúnico, no esclarecimento da imortalidade e suas reais razões;
c) As influências sociais propiciadas pelos movimentos religiosos mais ajustados;
d) As influências do setor psicológico, que, diante de novos horizontes, alcançou expressivo período na chamada psicologia transpessoal, de modo a abrir, cada vez mais, as comportas das vivências passadas.
Por tudo, o homem vai se adequando, pensando na imortalidade e buscando sempre um novo parâmetro, hoje, de modo mais acentuado, em virtude da fase de transformação que atravessamos.
Nesta fase, existe como que uma amostragem em escala, do proibido e do permitido, das negatividades e positividades, do desamor ao amor, do que devemos nos afastar e do que devemos nos aproximar.
Cálculos sociológicos asseveram que, hoje, existe uma população de 6 bilhões de pessoas, com 80% passando fome crônica, e que, nos próximos anos, 90% da espécie humana viverá no terceiro Mundo.
As leis da vida cobrarão as distorções com ordem e equilíbrio e, no devido tempo, embora tenhamos que lutar e trabalhar naquilo que compete a cada um em particular.
Com essas observações, poderemos avaliar o comportamento coletivo da humanidade. As civilizações mais antigas, a indiana, a chinesa e egípcia, propiciaram a estrutura psicológica humana, possibilitando à Hélade, diante de sua harmônica filosofia, o caráter do homem devocional.
Roma concorreu na formação do cidadão; a Idade Média foi o período do cristão submisso; a Renascença propicia o aparecimento do gentil-homem; a Era Moderna estrutura o homem tecnológico e a Era Atual o homem espírita, de idéias universalistas, o homem holístico, na busca de uma superconsciência, a fim de alcançar com seu impulso evolutivo a vida maior.
Essa busca foi entendida por T. Chardin, como sendo o ponto Ômega, o encontro com o Cristo Cósmico. Jung referiu-se a um processo de individualização, com o avançado crescimento psíquico.
Ao espírita compete o processo realizador, alargando a posição universalista, de liberdade autêntica pelo respeito às leis, pela obediência às exigências da vida, pela busca de um encontro bem ajustado e harmônico entre o conhecimento do intelecto com a intuição da ética e do amor, a fim de alcançar a sabedoria – o ponto máximo de possibilidade em nosso planeta, porquanto, a evolução avança pela eternidade por campos e dimensões, para nós, ainda desconhecidas.
Artigo publicado na Revista Caminho Espiritual
Dr. Jorge Andrea