Parábola do Cego que Guia outro Cego

Parábola do Cego que Guia outro Cego
(Lucas VI, 39)

Porventura pode um cego guiar outro cego?
não cairão ambos no barranco?

Sabes que os fariseus ouvindo o que disseste, ficaram escandalizados? Mas ele respondeu: Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada pela raiz. Deixai-os, são cegos guias de cegos. Se um cego guiar outro cego, cairão ambos no barranco.

1. Cairbar Schutel

Há cegos do corpo e cegos do Espírito, e se horrível é a cegueira do corpo, mil vezes pior é a do Espírito. Entretanto, bem difícil, ou quase impossível é encontrar-se um cego a guiar outro cego, ao passo que, no que se refere às coisas do Espírito.

Vemos, por toda parte, cegos que guiam cegos! Qualquer homem, por haver freqüentado um seminário e ter envergado uma sotaina, já se julga com capacidade bastante para ser guia de cegos!

Nunca se viu um cego formado no Instituto de Cegos sair à rua guiando cegos, mas vêem-se, todos os dias, cegos mil vezes mais cegos que os primeiros, saídos do Instituto da Cegueira, guiando a multidão de cegos que encontram o barranco do túmulo e nele caem juntamente com seus guias!

Mas passemos à comparação: triste coisa é ver-se neste mundo um cego caminhando só, ou um cego a guiar outro cego, se tal fosse possível. Que acontece ao cego que caminha sem guia? Tropeça aqui, tomba ali, cai acolá; esbarra, fere-se, até que alma caridosa o tome pela mão e o conduza a casa!

A mesma sorte está reservada aos cegos que guiam cegos; tanto uns, como outros, passam pelos mesmos tormentos. Imagine agora um cego de espírito caminhando sozinho: um materialista, cego-voluntário, ao chegar ao mundo espiritual!

Como poderá ele caminhar? Este homem não procurou estudar o mundo espiritual, nem sequer acreditava na outra vida; ignora a significação das palavras imortalidade, eternidade, Deus! Que acontecerá a este cego ao passar as barreiras do túmulo? Que acontecerá a este Espírito ao ver-se num mundo completamente estranho?

Imaginemos, agora, um cego de Espírito conduzindo uma multidão de cegos da mesma natureza, como acontece aos guias das religiões tarifadas! Imaginemos esses cegos sucedendo-se no mundo espiritual.

Que será de todos eles? São cegos, o mundo onde entraram lhes é desconhecido! Como se arranjarão estes cegos, na sua entrada para um mundo cuja existência negaram absortos que estavam nas miragens de um Céu de beatífica contemplação, de um Purgatório de brasas e de um Inferno de chamas!

Decididamente, ninguém pode saber sem aprender, ninguém pode aprender sem estudar, assim como ninguém pode ver, sendo cego. A parábola de Jesus cabe a todos aqueles que fazem da fé um bloco de carvão e se submetem ao magister dixit, sem análise, sem estudo, sem exame.

Um cego não pode guiar outro cego; um ignorante do mundo espiritual não pode guiar as almas que para aí se encaminham. Esta parábola, que faz alusão ao sacerdócio hebreu, pode referir-se hoje ao sacerdócio romano e protestante, assim como os materialistas, modernos saduceus que tudo negam.