Parábola do Avarento

28 Parábola do Avarento - (Lucas XII, 16:21)

As terras de um homem rico produziram muito fruto. E ele discorria consigo: Que hei de fazer, pois não tenho onde recolher os meus frutos? E disse: farei isto: derrubarei os meus celeiros e os construirei maiores, e aí guardarei toda a colheita e os meus bens e direi à minha alma:

Minha alma, tens muitos bens em depósito para largos anos; descansa, come e bebe e regala-te. Mas Deus disse-lhe: Insensato, esta noite te exigirão a tua alma; e as coisas que ajuntaste para quem serão? Assim é aquele que entesoura para si e não é rico para com Deus.

1. Cairbar Schutel

Quanto mais se avizinha o tempo do cumprimento da missão do divino Messias, mais ele intensificava o seu trabalho de difusão da doutrina de que havia sido encarregado, pelo Supremo Senhor, de trazê-la à Terra.

Os escribas e fariseus já faziam planos sinistros para acabar com a vida do Filho do Homem, quando o Mestre excelente iniciou a exposição das imaginosas parábolas que constituem um dos mais eloquentes capítulos do Novo Testamento.

A Parábola do Avarento é uma síntese maravilhosa do trágico fim de todos aqueles que não vêem a felicidade senão no dinheiro e se constituem em seus escravos incondicionais. Para esta gente, havendo dinheiro, há tudo.

Periclite a família, cambaleie a sociedade, arraste-se o mendigo pelas vias públicas envergonhado e descomposto, chore e soluce o aflito, grite de dores o enfermo miserável ou o inválido sem pão e sem lar, nada comove esses corações de pedra, nada lhes demove, nada consegue mudar-lhes ou desviar-lhes as vistas dos seus frutos, dos seus celeiros, do seu ouro!

São homens desumanos, sem alma; pelo menos ignoram a existência, em si mesmos, desse princípio imortal que deve constituir, para todos, o principal objeto de cuidados e de carinho. A avareza é a véspera da mendicidade, ou seja, o fator da miséria.

Quantos miseráveis perambulam pelas praças, implorando o óbolo e que, mesmo nesta existência, foram ricos, sustentaram grandezas, bastos celeiros transbordantes!

Quantos párias se arrastam pelas ruas, a bater de porta em porta, implorando uma esmola pelo amor de Deus! Qual a origem dessa situação penosa que atravessam, qual a causa desses sofrimentos? A avareza!

Ricos de dinheiro, eram pobres para com Deus, porque, embora não lhes faltasse tempo, nunca pesquisaram o próprio íntimo em busca de algo que existe, que sente, que quer e que não quer, que ama e que odeia, que vê o passado, que, ao menos, teme o futuro.

Nunca buscaram saber se essa centelha de inteligência que lhes dá tanto amor ao ouro, para ser tanta ganância pelos lucros terrenos poderá, quiçá, sobreviver a esse corpo que, de uma hora para outra, cairá exânime entregue ao banquete dos vermes!

O que valem riquezas efêmeras, sombras de felicidade que se esvaem, fumo de grandezas que desaparecem à primeira visita de uma enfermidade mortal!

O que valem celeiros repletos em presença do ladrão da morte, que chega em momento inesperado, e até quando nos julgamos em plena mocidade e com ótima saúde!

Míseros avarentos dos bens que Deus vos confiou! Pensais, porventura, que não tereis de prestar ao Senhor severas contas desse depósito? Pensai que eles hão de permanecer conosco e servirão para multiplicar cada vez mais a vossa fortuna?

Em verdade vos afirmo que vosso ouro se converterá em brasas a causticar vossa consciência! Em verdade vos digo que ele se transformará em peias e algemas resultantes da ação nefasta que exercestes em detrimento dos que tinham fome, dos que tinham sede, dos enfermos desprezados, dos pobres trabalhadores de quem explorastes trabalho!

Ricos! Movimentai esse talento que o Senhor vos concedeu! Granjeai amigos com esse tesouro da iniquidade, para que eles vos auxiliem a entrar nos tabernáculos eternos!

Fazei o bem; socorrei o pobre; amparai o órfão; auxiliai a viúva necessitada; curai o enfermo, como se ele fosse vosso irmão ou vosso filho; pagai com generosidade o trabalhador que está ao vosso serviço!

Fazei mais: comprai livros e aproveitai os momentos de ócio par vos instruir, porque um rico ignorante é tanto como um asno de sela dourada!

Ilustrai o vosso Espírito; fazei de vós tesouros e celeiros nos Céus, onde os vermes não chegam, os ladrões não alcançam, a morte não entra!

Lembrai-vos da Parábola do Avarento, cuja alma, na mesma noite em que fazia castelos no ar, foi chamada pelo Senhor!