Os ricos e o reino

Os ricos e o reino
O Consolador – Édo Mariani

A afirmação de Jesus
de que seria mais fácil entrar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico se salvar tem gerado muitas controvérsias sobre o assunto, até o entendimento de alguns de que seria necessário despojar-se da riqueza para poder entrar no reino dos céus.

O Espiritismo nos ensina que o reino do céu está dentro de cada um de nós, é um estado de consciência.



O Irmão Saulo, pseudônimo de José Herculano Pires, escreve elucidativa página que extraímos do Livro de sua parceria com Francisco Cândido Xavier e Espíritos Diversos, intitulado “Diálogo dos Vivos”, cuja página tem o título que dá nome à nossa colaboração de hoje.

Escreve ele: A condenação de Jesus aos ricos, tão clara no Evangelho de Lucas, não se refere à fortuna. Se Jesus considerasse o dinheiro como maldição não diria ao moço rico que o distribuísse aos pobres. A riqueza individual e familiar é uma forma de acumulação com vistas ao futuro da coletividade.

Kardec examinou suficientemente esse problema e deixou evidente o papel social da riqueza. Mas justamente por isso ela se torna, como dizem constantemente os Espíritos, uma das provas mais perigosas para o Espírito encarnado.

Podemos compará-la à saúde. O homem são e forte em geral se embriaga com sua condição e se afasta dos problemas do espírito. Esquece o que é e que terá de voltar ao plano espiritual. A prova da saúde é tão perigosa como a da fortuna.

Mas ambas têm por finalidade adestrar o Espírito na luta contra as ilusões, com as fascinações da vida. É nessa luta que o Espírito desenvolve os seus poderes internos, a sua capacidade de superar a matéria, de dominá-la como o nadador domina a água.

A parábola do jovem rico põe a nu a situação do Espírito diante da prova. O jovem queria a salvação e procurava seguir os preceitos da lei para atingi-la. Sua consciência o advertia de que ele não estava fazendo o necessário.

Mas quando Jesus lhe disse que libertasse dos seus bens e os revertesse em favor dos pobres, ele não teve coragem de fazê-lo. Vender as suas propriedades e distribuir o dinheiro aos necessitados não é apenas dar esmolas.

A maior esmola é a que se faz em forma de auxílio e estímulo ao trabalho. As propriedades inúteis do jovem rico podiam ser transformadas em recursos de produção, beneficiando os pobres. A acumulação da fortuna implica o dever do seu bom emprego em favor da coletividade.

Quem não a usa nesse sentido, mas apenas em benefício do seu orgulho e da sua vaidade pessoal, está colocando-se na situação do camelo que não pode passar pelo fundo da agulha.

A vida terrena passa breve e o rico egoísta logo se verá diante da porta estreita do Reino sem poder franqueá-la. Quando os homens forem capazes de enfrentar a prova da riqueza para vencer o egoísmo, a miséria desaparecerá do mundo.

A porta do Reino de Deus é estreita, porque só as almas puras, aliviadas da carga da ambição e do orgulho, devem passar por ela. O rico egoísta, apegado aos seus haveres, não consegue entrar, pois não se dispõe a largar os seus fardos do lado de fora.

Terá de voltar muitas vezes à Terra, aos reinos dos homens, para aprender que a riqueza material só o ajudará quando ele souber trocar as suas moedas de metal por atos de amor.